Quando Martin Scobari se preparava para assumir a posição de chairman do comitê global de investimentos da General Atlantic, um fundo global com quase US$ 40 bilhões sob gestão, ele foi até dois dos cofundadores para pedir conselhos e inspiração.
Steve Denning passou uma mensagem bem clara: Crie o hábito de usar checklists, ou seja, listas de critérios objetivos que o ajudem a definir o que é um bom negócio.
Martin estava com isso na cabeça quando foi conversar com David Hodgson, que falou o seguinte: O mais importante é não acreditar em checklists. Investir é muito complexo para ser baseado em dogmas.
Talvez o segredo do sucesso da GA esteja na combinação dessas duas lições.
Story of the Week
Quando a primeira caneta esferográfica foi lançada nos EUA, em 1945, ela custava US$12,50 (equivalente a US$180 atuais). Milhares de pessoas fizeram fila para comprar. Do estoque de 50.000, 30 mil foram vendidas na primeira semana. Foi uma revolução a la smartphone na época. Antes, escrever era um ato estacionário, que tinha que ser feito em um determinado ambiente, em um determinado tipo de mesa. O que a caneta esferográfica fez foi tornar a escrita algo que pudesse acontecer em qualquer lugar. Mas a história dessa caneta começou muito antes e também não acabou por ai.
Um norte-americano, chamdo John Loud criou a primeira patente de uma caneta esferográfica quase 70 anos antes, em 1888. A ideia dele era criar algo que também pudesse escrever em materiais mais duros como madeira e couro. E ele de fato conseguiu, mas ela acabou ficando ruim para o mais importante de todos, o papel. Dessa forma, o projeto não obteve sucesso comercial.
Muitos inventores tentaram melhorar o design do Loud, mas foi apenas da década de 30 que o hungaro-argentino László Bíró conseguiu. E o segredo estava no tipo de tinta. Com a ajuda do seu irmão, que era químico, eles criaram uma tinta com a textura ideal, que secava mais rápido e necessitava de muito menos tinta, tornando-a mais durável. Em 1938, ele patenteou a ideia, mas a Segunda Guerra colocou em pause o projeto. Por ser judeu, imigrou para a Argentina, onde lançou a invenção em 1943. Curiosamente, um dos seus primeiros clientes foi a Força Aérea Britânica, que viu a caneta como muito útil pois permitia que seus pilotos a usassem enquanto voavam. Fora algumas vendas, a caneta ainda era pouco conhecida fora da América do Sul.
Em 1945, duas empresas norte-americanas se juntaram para comprar os direitos de venda no mercado americano, por cerca de 500k dólares (US$ 7.2 milhões atuais). Mas eles foram muito lentos. Um outro norte-americano chamado Milton Reynolds, visitou Buenos Aires, comprou algumas dessas canetas e mudou o design, o suficiente para não entrar em conflito com a patente do Bíró. Foi ele então o responsável pelo primeiro lançamento da caneta nos EUA, descrito no começo do texto. Nos primeiros 6 meses, foram vendidos o equivalente a 81 milhões de dólares atuais. Mas isso criou um problema. Diversas marcas começaram a lançar as suas canetas e o mercado se tornou saturado. Ainda com o hábito de canetas-tinteiros, ninguém trocava de caneta, apenas compravam refil de tinta. A verdadeira revolução viria da França.
Michael Bich era um Italiano naturalizado francês. Ao contrário dos outros, ele não inventou nada. Apenas entendeu a verdadeira dor do mercado. E com isso, a oportunidade. Ele fundou a Société Bic com um objetivo: massificar a produção das canetas esferográficas, que até então eram um produto premium. Enquanto as primeiras canetas no Reino Unido custavam 55 shillings (US$107 dólares atuais), a sua começou a ser vendida por 1 shilling. Ele conseguiu isso graças a mudanças na técnicas de produção, em especial a disseminação da produção utilizando plástico.
Mais do que preço, a caneca Bic é um ícone de design industrial, quase inalterado desde a sua criação. O corpo hexagonal torna-a fácil de segurar e evita que role para fora das superfície em que está. O corpo transparente permite ver se a tinta está acabando. Um pequeno furo no corpo iguala a pressão do ar dentro e fora da caneta. A tampa da caneta possui um pequeno orifício na ponta que possibilita a passagem de ar, projetado para minimizar os riscos de asfixia caso a tampa seja engolida. Em 2002, devido ao seu design simples e extremamente eficiente, a caneta Bic foi incluída na coleção permanente do Museum of Modern Art (MOMA), em Nova York.
Além disso, ela teve um impacto social muito forte. Como coloca Philip Hensher, em seu livro The Missing Ink, “Você também precisa observar o efeito que a esferográfica Bic teve na África. Realmente transformou a sociedade africana. Simplesmente não havia uma maneira de as pessoas escreverem facilmente antes da Bic.” No Brasil, ela chegou em 1956 e, quatro anos mais tarde, inaugurou a sua primeira fábrica no país, em São Paulo. Hoje, a fábrica se mudou para Manaus, de onde são produzidas 95% vendidas por aqui. O Brasil é o segundo maior mercado da empresa, tanto em volume quanto em faturamento, atrás apenas dos EUA.
Em 2006, a empresa superou a marca de 100 bilhões de canetas vendidas. Ela é listada na bolsa de Paris e atualmente vale cerca de 2,2 bilhões de euros. Mas a empresa enfrenta um desafio daqui para frente. A sua natureza descartável criou uma enorme quantidade de resíduos plásticos. Estima-se que mais de 1,6 bilhão de canetas sejam eliminadas todos os anos apenas nos EUA. Para se manter competitiva e evitar que competidores tomem o seu lugar, a empresa vai precisar se revolucionar, mais uma vez.