Sob um ponto de vista, 2020 foi como um adolescente de castigo, bravo e trancado dentro de casa. Mas o mundo não parou e uma das empresas que contribuiu com isso foi o Zoom. A plataforma de videoconferência foi utilizada para sediar 300 milhões de reuniões e encontros por dia, acumulando mais de 3 trilhões de minutos na plataforma, o equivalente a 5,5 milhões de anos. Com essa necessidade toda, a empresa praticamente dobrou sua receita em um ano, saltando de US$330 milhões, em 2019, para US$622 milhões, em 2020. As notícias de eficácia da vacina trouxeram a expectativa de uma volta ao normal e as ações da Zoom sofreram uma queda de 37%, mas a empresa ainda está avaliada em US$ 102 bilhões. Em outras palavras, ela vale a mesma coisa que a Ambev e o Itaú…juntos!
O fundador e CEO da Zoom, Eric Yuan, acredita que o trabalho continuará de forma híbrida, pois é o melhor modelo para a produtividade e para o meio ambiente. Apesar das vantagens do trabalho remoto, até o Eric, que chegou a ter 19 reuniões por Zoom em apenas um dia, admite que a experiência de uma reunião online é muito pior que a presencial. Mas ele nos contou, durante o Web Summit de 2020, a maior conferência de tecnologia do mundo, que as tecnologias de Realidade Virtual (VR) e Realidade Aumentada (AR) irão mudar isso.
De acordo com ele, a experiência de uma reunião por Zoom será tão boa quanto um encontro no Starbucks. Será possível sentir o cheiro do café da outra pessoa e seu aperto de mão remotamente. No futuro, podemos viver em um mundo em que não importa em que lugar do planeta as pessoas estiverem e que idioma elas falarem, elas sempre irão se sentir como se estivessem no mesmo lugar e conseguirão entender umas as outras.
Será que vamos ver essa revolução tecnológica?
Já falamos aqui na Newsletter, em julho de 2019, sobre uma empresa que tentou desenvolver dispositivos que criavam qualquer tipo de aroma, a iSmell. Nasceu no ápice da bolha dotcom e foi um fracasso, não havia a menor demanda para essa solução. Mas em um mundo profissional híbrido de 2020 em diante, quem não sente falta do cheiro do café do escritório?
Um estudo realizado em 2018 e publicado no Journal of Environmental Psychology, afirma que apenas o cheiro de café pode ser suficiente para aumentar a produtividade, ou pelo menos a percepção das pessoas sobre sua produtividade. Os neurocientistas explicam que os cheiros remetem a memórias, que trazem emoções e que podem influenciar comportamentos. Uma empresa que teve essa sacada foi a Disney, que libera cheiros diferentes para cada localização de seus parques, para teletransportar seus visitantes para o seu universo mágico e gerar sensações de nostalgia. Os “Smellitizers” ficam disfarçados pelos parques e soltam cheiros como de baunilha, nas ruas principais dos parques, e água do mar, nas filas dos brinquedos dos Piratas do Caribe. Talvez para criar uma experiência virtual tão boa quanto a presencial, seja necessário incluir o sentido do olfato.
As primeiras iniciativas nessa frente lidam com a recriação de determinados cheiros via a combinação de certos líquidos, o que inviabiliza o uso pulverizado e em larga escala. Mas estudos mais recentes vêm levantando a possibilidade de se “enganar” o cérebro via pequenos sinais elétricos. Se tivermos avanços nessa frente, teremos uma verdadeira revolução.
Mas como o Eric comentou, quem vai mudar de vez esse jogo são as tecnologias de VR e AR. A Realidade Aumentada já é mais comum e utilizada diariamente no Instagram com os filtros dos stories. Essa é quando misturamos algo digital no mundo real via um dispositivo. Já a Realidade Virtual (quando somos imersos completamente em um mundo digital) ainda não decolou. Mas grandes empresas estão fazendo suas apostas. Em 2017, Mark Zuckerberg anunciou que pretendia investir até US$ 3 bilhões em VR na próxima década. Em maio de 2020, depois de um ano de lançamento do Oculus Quest, dispositivo de VR do Facebook, a empresa anunciou que havia vendido US$ 100 milhões com seus dispositivos, um valor que mostra que ainda está nascendo, mas pode ganhar maior relevância.
Os dispositivos de VR até agora são utilizados principalmente para games, mas a startup Spatial lançou em 2020 seu aplicativo para reuniões em VR no Oculus. A empresa americana já recebeu mais de US$ 22 milhões de investimento de VCs e anjos, entre eles o Andy Hertzfeld, Co-Inventor da Macintosh. A reunião funciona em um formato “híbrido” entre Zoom e VR. Você entra em um ambiente virtual, como uma sala de reunião fictícia e pode aparecer na reunião com a sua câmera ou como um avatar. A experiência ainda é estranha, longe de ser igual a uma reunião presencial.
Outra grande empresa de tecnologia que parece estar desenvolvendo dispositivos em AR e VR é a Apple. Segundo uma notícia da Bloomberg de 2019, a Apple tinha um time de mais de mil engenheiros trabalhando na iniciativa dessas tecnologias e iria lançar um dispositivo em 2021 para jogos, vídeos e reuniões virtuais. No seu último lançamento de 2020, o Ipad Pro já incluía um sistema de sensor 3D na câmera, o LiDAR Scanner, capaz de medir objetos à distância de até 5 metros e permitindo que as pessoas criem reconstruções tridimensionais de salas, objetos e pessoas. A utilidade dessa feature ainda não está muito clara, mas os investimentos da Apple não param por aí. Em agosto de 2020, a Apple adquiriu a startup Space, que realizava atrações em VR para parques temáticos e que pivotou durante a pandemia para desenvolver um produto de conferências de vídeo em VR. Como sempre, a Apple desenvolve seus produtos dentro de um cofre guardado a sete chaves, mas suas diversas aquisições no segmento de VR como NextVR, Akonia Holographics e Vrvana dão uma pista para onde a empresa da maçã está seguindo.
Portanto, será que estamos nos aproximando de ter uma reunião virtual tão boa quanto uma presencial? O CEO da Zoom garante que poderemos viver essa experiência nos próximos 10 ou 15 anos.