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Newsletter | O maior comprador de tecnologia do mundo

 

Provavelmente não é um pensamento controverso que a inovação é importante. Mas é excepcionalmente difícil para as grandes corporações conseguirem colocar a inovação dentre as suas prioridades. Astro Teller, o famoso Captain of Moonshots da Google X, ilustra isso com um exercício mental interessante.

Ele oferece a um grupo a escolha entre o “Projeto A” – que certamente trará um milhão de dólares de receita – “ou o Projeto B” – que tem uma chance em cem de criar um bilhão de dólares de receita. A maioria das pessoas opta corretamente por “B”. É a escolha mais inteligente do ponto de vista matemático. Ela possui 10x a utilidade esperada em comparação com “A”. No entanto, quando ele pergunta qual projeto seu gerente provavelmente aprovaria, eles respondem “A”.

É aí que reside o dilema. Astro até brinca “Você não precisa de uma aula de inovação, precisa de um novo gerente.”

Story of the week

GovTechs

Semanalmente, aqui na KPTL, conversamos com diversas startups que buscam vender suas soluções de software para as grandes corporações. Nosso portfolio é em grande parte composto por esse perfil. Mas muitas vezes se esquece que a maior corporação, a maior compradora de soluções de tecnologia é, na verdade, o governo.

Em 2020, por exemplo, o governo norte-americano gastou US$156 bilhões em projetos de P&D. Em comparação, o mercado inteiro de Venture Capital nos EUA investiu US$164 bilhões no mesmo ano. Segundo dados da Public, estimasse que o mercado de GovTechs já supera os 400 bilhões de dólares por ano no mundo.

Apesar das oportunidades, vender para o governo assusta a maioria das empresas. Longos ciclos de venda, dificuldade de se adequar a controles mais rígidos de compliance e licitações, requerimentos complexos de produtos e incerteza no cumprimento dos contratos são algumas das questões que afastam as startups desse mercado. Em suma, vender para o governo não é fácil e exige um know how específico. Geralmente é mais fácil para essas empresas focarem no mercado privado, com suas regras mais simples e ciclos de vendas mais rápidos. Por outro lado, uma vez que se consegue entrar, o churn tende a ser muito baixo.

Os países estão se movimentando

A Alemanha está investindo 500 milhões de euros para digitalizar todos os processos administrativos (do federal ao municipal) até 2022. A França está fazendo o mesmo com os 250 processos mais comuns, também com a meta de fazer isso até 2022.

O Reino Unido separou uma verba de 20 milhões de libras para uma iniciativa muito interessante chamada GovTech Catalyst Fund. Basicamente, o governo apresenta seus problemas mais complexos e financia 5 empresas para trabalhar em cima daquele problema por 3 meses, ou seja, uma espécie de POC ou projeto piloto. Caso as soluções apresentadas funcionem, até 2 dessas empresas podem ter seus contratos estendidos. Em 2018, Portugal lançou a primeira edição de uma competição de GovTechs.

O case da Estonia

A Estônia é aquele país que você provavelmente conhece como um pacote de Estônia+Letónia+Lituânia. Isso porque são três ex-colônias soviéticas que ficam ali entre a Suécia e a Finlândia. Quando o muro caiu e o país se tornou independente, o novo governo foi formado e os ministros tinham, em média, 30 anos. Esses jovens lideraram o país em um intenso processo de digitalização. Os resultados são impressionantes.

Lá, todo cidadão possui um cartão de identidade que é usado para tudo. Ele é a sua carteira de motorista, seu passaporte, com ele você usa o transporte público, vota de forma completamente online, faz transações bancárias, têm todo o seu histórico e prescrições médicas gravados nele e recebe qualquer serviço governamental. Desses serviços, 99% podem ser feitos online. Quando você vai pagar seus impostos, o próprio governo acessa suas contas bancárias, faz todo o cálculo e você só precisa entrar no site, conferir que está tudo certo e dar o ok para pagar. E como tudo é online, você não precisa esperar o horário comercial.

Tudo é feito com transparência e segurança. Quando algum funcionário do governo acessa as minhas informações, eu consigo ver exatamente quem fez e posso pedir que a pessoa justifique o porquê está fazendo aquilo. A transparência também se mostra na parte da segurança. Todas as grandes falhas do sistema foram divulgadas pelo próprio governo e imediatamente solucionadas. A maior crise nesse aspecto ocorreu em 2007 com um cyber ataque realizado pela Rússia. Mas isso acabou contribuindo para o país investir ainda mais na segurança, e inclusive, a NATO instalou o seu Cyber Defence Centre of Excellence na capital da Estônia.

O uso da tecnologia blockchain também contribui para a segurança e a Estônia foi um dos pioneiros nesse uso. Começou os testes em 2008 e em 2012 já tinha a infraestrutura de blockchain totalmente operacional, muito antes de toda a Hype do Bitcoin. Com a modernização, veio a inovação. O país se tornou o “Vale do Silício europeu” com a maior concentração de startups per capita da Europa. Grandes empresas nasceram lá, como é o caso do Skype, Transferwise e Pipedrive. E eles pensam maior ainda. Desde 2014, eles começaram o programa e-residency, que permite qualquer pessoa se tornar um residente do país, abrir uma startup lá e ter acesso a todos os serviços governamentais sem nunca nem precisar pisar lá. Assim como o Airbnb é a maior rede hoteleira do mundo sem possuir nenhuma propriedade, a Estônia sonha em se tornar o maior país do mundo, possuindo apenas 1,3 milhões de habitantes.

 

 

E o Brasil?

Nos últimos anos, o Brasil também vem passando diversas legislações no mesmo rumo. Tivemos a Lei Nacional de Inovação Tecnológica de 2004, a Lei Nacional de Governo Digital e o Marco Legal de Startups e Empreendedorismo Inovador sancionados nesse ano. Em 2019, o Ministerio da Economia anunciou o seu projeto para digitalizar 80% dos serviços públicos. Ainda estamos longe de ser uma Estonia, mas há movimentos no sentido do governo se digitalizar e facilitar a interação com startups.

Alguns meses, atrás a KPTL promoveu um evento no qual o Guilherme Dominguez, cofundador e CEO do BrazilLAB foi um dos convidados. O BrazilLAB é o primeiro hub de inovação GovTech do Brasil. Seu propósito é de aproximar startups e setor público. Segundo o Guilherme, a barreira regulatória, ou seja, aquilo que se costuma dizer que é o entrave para inovação em governo já caiu. O desafio técnico de parcerias público-privadas em tecnologia está em grande parte resolvido. Hoje não há desculpas para não vender para o governo.

Embora seja uma iniciativa que começou em 2016, o BrazilLAB já teve +1200 startups inscritas nos seus programas e +120 startups aceleradas. Eles mapearam que existem cerca de 1500 startups brasileiras que poderia estar vendendo suas soluções para o governo.

 

 

KPTL, a maior investidora de GovTechs no Brasil 

Apesar da maioria dos VCs querer ficar longe de GovTechs, a KPTL vem investindo em empresas desse tipo desde 2008. Ao todo foram 9 investimentos, dos quais um já se tornou uma saída muito bem-sucedida. Quando analisamos como esse portfolio tem performado no tempo, foi impressionante notar que de todos os setores que nós investimos, as GovTechs foram as que tiveram a melhor performance. Ou seja, não só investimos em empresas com um profundo impacto social, como conseguimos fazer isso gerando um retorno financeiro completamente fora da curva para os nossos investidores.

É por isso, que a KPTL, em parceria com a Cedro Capital e com o apoio da BrazilLAB, lançou um fundo focado em GovTechs, o primeiro na história da América Latina e um dos únicos no mundo. Esse novo fundo será gerenciado pelo economista Adriano Pitoli ex-diretor de análise setorial e regional da Tendências Consultoria e ex-chefe do núcleo da Secretaria de Indústria e Comércio do Ministério da Economia em São Paulo, e contará com a assessoria de Paulo Uebel, ex-secretário especial de Desburocratização, Gestão e Governo Digital.

O fundo deverá buscar preferencialmente empresas em nove frentes de atuação: saúde, educação, mobilidade urbana, segurança pública, cidadania, legislação, smart cities, gestão e moradia. Essas futuras investidas do fundo não terão de ser necessariamente contratadas pelo governo, também existem a possibilidade de uma GovTech atuar muito próxima ao governo, com uma solução que endereça lacunas do serviço público, mas com a conta paga pela iniciativa privada. Para ilustrar isso, trouxemos o case da Portal de Compras Públicas.

O Portal de Compras Públicas

Em 2019, o governo realizou R$940 bilhões em compras públicas. Historicamente, a decisão de quem será o fornecedor para cada tipo de compra era (e ainda é em muitos lugares) feita de forma presencial. Mas uma nova lei tornou obrigatório o processo eletrônico. Isso fez surgir +1800 portais distintos para compras públicas. Quando se pensa em GovTech, se pensa em um cliente único e um contrato bilionário volátil. Mas na verdade essa contratação é fragmentada em estados, municípios, orgãos públicos, empresas estatais, instituições públicas, etc. Portanto, esse número vira milhares. Nesse caso, são 22 mil entitades públicas cadastradas que compram via licitação. A tendência de consolidação desses portais é de um benefício evidente, e o Portal de Compras Públicas está ai para provar isso.

Seu fundador, Leonardo Ladeira, já atua no desenvolvimento de soluções tecnológicas ligadas à gestão pública desde 1999 e, especificamente, de e-procurement desde 2003, quanto liderou o desenvolvimento do Portal Cidade Compras (2003-2016), da CNM.

A sua plataforma de tecnologia permite a gestão de todas as etapas que envolvem um processo de licitação em diferentes modalidades, em especial pregão eletrônico. Para os órgãos públicos o acesso à plataforma é gratuito, onde os responsáveis pelo processo de compra nestes órgãos, os pregoeiros, têm à sua disposição uma ferramenta completa para gestão das compras públicas. A adoção dessa ferramenta permite ao órgão reduzir gastos com contratação de desenvolvimento e manutenção de sistemas próprios e ter solução de portal tecnologicamente atualizada, modernizada e que segue os mais altos padrões de transparência.

Para as empresas fornecedoras, o acesso à plataforma do PCP ocorre mediante pagamento de planos de acesso, com periodicidade mensal, semestral ou anual. Estas empresas têm acesso a diferentes serviços na plataforma, voltados para auxiliar na venda de seus produtos ou serviços. Hoje, são mais de 249 mil CNPJs cadastrados como fornecedores na plataforma, dos quais mais de 10 mil são ativos.

O elevado número de fornecedores incentiva a concorrência, que se traduziu em uma economia de 28% em cima do valor licitado, ou cerca de R$9 bilhões no ano de 2020. É o equivalente a uma merenda escolar para 4,6 milhões de crianças durante um ano inteiro. Em Sapucaia do Sul (RS), o município conseguiu construir 2 centros educacionais apenas com as economias geradas pelo Portal de Compras Públicas.

O Portal de Compras Públicas já é o terceiro maior portal do país, atrás do ComprasNet (Governo Federal) e licitações-e (BB). São transacionadas R$250 milhões em compras públicas por dia na plataforma. Estão chegando a 2 mil municípios utilizando a plataforma, mas ainda é só o começo.