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Vamos começar essa edição de um jeito bem diferente. Único. Primeiro, saque do bolso seu celular e abra seu aplicativo preferido de música. Uma vez nele, digite “tecnobrega”. Isso mesmo: t-e-c-n-o-b-r-e-g-a. Pince uma playlist, aperte o play e deixe as ideias balançarem de um lado para o outro. E acredite, elas vão chacoalhar não só o seu pensamento, mas também o seu estado de espírito… Porque nessa epifania, nosso destino é um só: a Amazônia. E enquanto rola uma música da Joelma, ex-Banda Calypso – “eu vou tomar um tacacá, dançar, curtir, ficar de boa/Pois quando chego no Pará, me sinto bem, o tempo voa” -, nós vamos te contar o que aconteceu no primeiro Bioeconomy Amazon Summit (BAS). Sim, primeiro. Porque a KPTL e o Pacto Global da Organização das Nações Unidas (ONU) – Rede Brasil vão promover outras seis edições pelos próximos anos. Ou seja, vai ter date amazônico até 2030, sim. Realizado em 01 de agosto de 2024 no Hangar Convenções e Feiras da Amazônia, em Belém, capital do Estado do Pará, um dos principais palcos de eventos da cidade e que também vai abrigar parte da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2025, a COP 30, o BAS reuniu cerca de 700 pessoas, entre lideranças de governos, investidores, empresas, empreendedores, academia, organizações não-governamentais e povos originários. Aqui, cabe o grifo. O BAS, para todos os efeitos, data vegna, deu seu pontapé inicial na noite de 31 de julho num jantar, combinando sabores e saberes ancestrais, em um hotel descolado da cidade, com o patrocínio do Mercado Livre. Aliás, que menu…! Mas não foi só o Mercado Livre que esteve junto nessa empreitada. O BAS ainda recebeu uma belíssima contribuição de pesos-pesados da economia brasileira. Ou bioeconomia (mais para frente a gente explica essa terminologia). A começar pelo Governo do Estado do Pará, Sebrae Amazônia, Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e a APEX Brasil. Além deles, Governo Federal, B3, Banco da Amazônia, Copastur Viagens e Turismo e parcerias institucionais com a Associação dos Negócios da Sociobioeconomia da Amazônia (Assobio), Climate Ventures, Empreende Amazônia, Cubo, Jornada Amazônia e a consultoria de inovação Kyvo. Na área de mídia, a Exame e Rede Amazônica foram os parceiros. “Quero aqui festejar este momento e agradecer, porque mobilizações como esta colaboram de forma decisiva para a consolidação deste novo tempo que, por um lado, reduz desmatamento, combate ilegalidades ambientais, combate garimpos ilegais e permite uma janela de oportunidades para que o uso do solo, para que soluções baseadas na natureza possam gerar empregos verdes, empregos sustentáveis, empregos que estejam na concepção daquilo que nós queremos para a Amazônia”, afirma o governador do Estado do Pará, Helder Barbalho. |
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Helder Barbalho, governador do Estado do Pará, durante o Bioeconomy Amazon Summit. (Foto: Gil Silva) |
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“Eu festejo muito que vocês tenham tomado a decisão de vir para a Amazônia, trazer os investidores e empreendedores do Sudeste e do Sul do país. E pedir mais uma vez, Carlo (Pereira), você como representante do Pacto Global, e Renato (Ramalho, da KPTL), que agora a gente possa fazer mais conexões para atrair investidores e empreendedores para o Pará e a Amazônia, provando que a gente pode fazer um conteúdo de transformação” complementa José Mauro de Lima O’ de Almeida, Secretário de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Pará. |
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Uma das “flores do cupuaçu”do BAS foi a Arena Empreendedora, com a participação de mais de 70 startups. E o foco, claro, bioeconomia. Agora, chegou a hora de sabermos o que significa de fato e de direito a tal bioeconomia. |
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Arena Empreendedora do Bioeconomy Amazon Summit. (Foto: Gil Silva) |
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Primeiro, não existe um entendimento único para o conceito em si, porque se trata de evolução, embora haja vários elementos convergentes nessa ideia, na visão de muitos pesquisadores e entidades. É um guarda-chuva amplo. Mas como explica o Instituto de Pesquisa Avançada (IPEA) no estudo “Brasil 2025 – Cenários para o Desenvolvimento”: |
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“… de maneira geral, a bioeconomia pode ser definida como uma economia em que os pilares básicos de produção, como materiais, químicos e energia, são derivados de recursos biológicos renováveis. Nessa `nova´ economia, a transformação da biomassa possui papel central na produção de alimentos, fármacos, fibras, produtos industriais e energia. A diferença entre a bioeconomia do passado e a atual é que esta tem por base o uso intensivo de novos conhecimentos científicos e tecnológicos, como os produzidos pela biotecnologia, genômica, biologia sintética, bioinformática e engenharia genética, que contribuem para o desenvolvimento de processos com base biológica e para a transformação de recursos naturais em bens e serviços.” |
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Agora, que já estamos versados na terminologia, vamos nos aprofundar nessa necessária ponte entre saberes ancestrais dos povos originários e funding. Só para dar uma ideia, a bioeconomia pode gerar um faturamento adicional de US$ 284 bilhões por ano até 2050 no Brasil, segundo a Associação Brasileira de Bioinovação (ABBI). Esse cálculo engloba uma série de ações conjuntas nas quais o agronegócio e os setores de alimentação, biotecnologia, farmacêutico e cosméticos, entre outros, assumem posição de destaque. No Pará, especificamente, 30 produtos da chamada cadeia da sociobiodiversidade produziram uma renda de R$ 5,4 bilhões e geraram 224 mil empregos, conforme estudo da The Nature Conservancy (TNC), em parceria com BID e a Natura. “Muitas de nossas startups exercem atividades diretamente conectadas ao bioma da Amazônia ou à sustentabilidade. Temos um histórico de atuação na agenda do clima e do meio ambiente que vem desde 2013, com o Fundo FIMA, ao investir em empresas que priorizam a sustentabilidade em seu modelo de negócios”, diz Renato Ramalho, CEO da KPTL. Ramalho se refere ao Fundo de Inovação em Meio Ambiente (FIMA), criado em 2013 pelo BNDES e gerido pela KPTL, que investiu em 11 empresas focadas em soluções sustentáveis – é o primeiro fundo do Brasil com foco em inovação e meio ambiente. |
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Renato Ramalho, CEO da KPTL, durante o Bioeconomy Amazon Summit. (Foto: Gil Silva) |
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A atuação da KTPL ainda foi reforçada em 2022, com o lançamento do Fundo de Floresta e Clima, em parceria com o Fundo Vale, que vai direcionar R$ 200 milhões para startups ligadas à bioeconomia e mudanças climáticas, como créditos de carbono, restauração de florestas e ineficiências logísticas e sociais em grandes biomas. Mais recentemente, teve outra iniciativa, o lançamento de um fundo específico para a bioeconomia: o Amazonia Regenerate Accelerator and Investment Fund. Com o apoio do BID Lab, o braço de inovação e empreendimento do BID, o fundo foi lançado em junho e terá US$ 11 milhões para investir logo de cara. O objetivo é atrair novos investidores internacionais e alcançar US$ 30 milhões (R$ 158 milhões) nos próximos 18 meses. “Esse histórico todo demonstra como as questões de clima, sustentabilidade e bioeconomia são relevantes para a KPTL e movem nossas estratégias. Gostamos dessas verticais brasileiras e sabemos que são diferenciais competitivos do País”, diz Ramalho. Histórico que, inclusive, mais uma vez se traduz nessa news, já que a nossa primeira edição versou sobre Henry Ford e projetos sustentáveis. |
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Assim como o gingado de Joelma nos palcos e a copa frondosa da Sumaúma, a árvore-símbolo da região amazônica, a inovação segue a batida frenética do tecnobrega e a biodiversidade. Leia-se guarda-chuva. Tanto que dos mais de 70 empreendedores presentes na primeira edição do BAS, 39% estão ligados à área de alimentos e bebidas, 13% à saúde e cosméticos, 10% à área de clima, 9% ao agronegócio, 6% em dados e outros 23% se dividem em áreas como moda, energia, finanças, biotecnologia e transporte. Em relação ao grau de maturidade, de um universo de 60 empresas que responderam ao formulário da organização, 53% estão em fase de tração, 25% em estágio de operação, 11% buscando escala, 8% em momento de testar o MVP e 3% em fase de prototipagem. Como se vê, é uma amostra que indica a diversidade no setor e permite vislumbrar o imenso potencial para geração de inovação nos próximos anos. Dentre esse rol de iniciativas, a Ages Bioactive é uma das que estão debaixo dessa gigantesca “copa de inovação”. Fundada em 2020, a Ages é a primeira empresa do Brasil focada em longevidade e healthspan (“tempo de vida saudável”). Com o propósito de ajudar as pessoas a lidar melhor com a passagem do tempo, mantendo qualidade de vida, a Ages produz compostos naturais bioativos, provenientes do bioma amazônico, que ajudam a prevenir fatores relacionados ao declínio da saúde |
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O professor Dr. José Carlos Tavares, diretor científico de P&D e cofundador da Ages, é um craque na temática. Um dos maiores especialistas em bioma amazônico no mundo, com mais de 30 anos de experiência em fármacos, o professor destaca que a biodiversidade da Amazônia tem uma importância crucial para a descoberta de novos medicamentos. “O bioma amazônico é riquíssimo para a geração de novos fármacos”, afirma, observando que o fortalecimento da cadeia de bioeconomia é fundamental. |
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| | Dr. José Carlos Tavares, diretor científico de P&D e cofundador da Ages. (Foto: Cabron Studios) |
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“O BAS foi muito importante para isso, porque levou investidores a terem contato com os representantes amazônidas. Esse é um aspecto muito interessante porque o que nós precisamos – eu sou amazônida, eu vivo na Amazônia – é que os investimentos venham com o pensamento da sustentabilidade”, diz o cofundador da Ages, que recebeu ao redor R$ 4 milhões de investimentos do Fundo de Floresta e Clima da KPTL. Outro exemplo é a Augen. Startup que também participou do BAS, a empresa atua na área de soluções para tratamento, produção e distribuição de água. Como explica Felipe Tavares, conselheiro da Augen e ex-superintendente de estudos hídricos e socioeconômicos da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), garantir água com qualidade para o consumo humano em áreas remotas, onde vivem comunidades tradicionais e indígenas, é um dos grandes desafios na região amazônica. |
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“Conseguimos oferecer isso usando Inteligência Artificial, telemetria e gestão eficiente de estrutura de adução e reservação, garantindo que a população vai ter água de qualidade para o consumo”, diz Tavares. Com muitos clientes no setor de saneamento, entre outros, a Augen recebeu aporte de R$ 4 milhões do Fundo GovTech da KPTL e Cedro Capital para aplicar em estações autônomas em infraestrutura de saneamento. |
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| | Felipe Tavares, conselheiro da Augen e ex-superintendente de estudos hídricos e socioeconômicos da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA). (Foto: Divulgação) |
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Por falar em água, o foco da Fractal Engenharia de Sistemas é o que o fundador Henrique Rocha chama de “inteligência hidroclimática”. Uma das startups que fizeram pitches no evento, a empresa foi fundada em 2010, no Estado de Santa Catarina. Ela tem como propósito usar dados hidroclimáticos para entender a dinâmica da água num território para, assim, apoiar a tomada de decisão e mitigar os riscos de empreendimentos, assim como ajudar a sociedade, que sofre com inundações e eventos climáticos extremos. |
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A startup conecta informações sobre meteorologia com o conhecimento de hidrologia e hidráulica fluvial para fazer previsões de chuvas no nível do detalhe, indicando as “cotas de inundação”, possibilitando saber exatamente quais áreas estão sob risco de alagamento. “Além de trabalhar com o excedente hídrico, os nossos sistemas trabalham com o déficit hídrico, o que nos permite estimar qual vai ser a severidade de uma seca ou por quanto deve durar um período de estiagem”, explica Rocha. |
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| | Henrique Rocha, fundador e CEO da Fractal Engenharias de Sistemas. (Foto: Gil Silva) |
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Quer mais um exemplo, abraçado novamente pela frondosa “copa da inovação”, a Agrotools. Empresa de soluções digitais com forte atuação no agronegócio, igualmente se vale da inteligência de dados para auxiliar a cadeia de negócios da Amazônia. Também presente no BAS, a companhia – cuja operação analisa mais de 4,5 milhões de territórios e monitora R$ 15 bilhões em commodities – entende a bioeconomia a partir de um conceito mais amplo, que se refere a uma economia baseada no uso sustentável de recursos biológicos para a produção de alimentos, energia, materiais e produtos químicos. |
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“Nesse sentido, as ofertas (da Agrotools) para os atores da bioeconomia passam por protocolos de elegibilidade, verificações remotas de compliance, impactos de eventos climáticos, alertas de fogo e outros riscos envolvidos nas operações”, explica Breno Felix, Chief Product Officer (CPO) da Agrotools. Com essa caixa de ferramentas, é possível ampliar a escala da bioeconomia. “Ouso dizer que a tecnologia é a chave para que a bioeconomia transcenda alguns redutos e se insira em grandes movimentos sociais ligados, sobretudo, à segurança alimentar e à subsistência do planeta no longo prazo”. |
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| | Breno Felix, CPO da Agrotools. (Foto: Divulgação) |
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Poderíamos aqui trazer vários outros exemplos de startups inovadoras de bioeconomia, clima e sustentabilidade. Mas o “sumo do taperebá” é que o ecossistema está se fortalecendo, alimentado pela biodiversidade da Amazônia e a necessidade de valorização dos negócios que mantenham a floresta de pé. Bom, agora podemos relaxar um pouco, certo?!? Dj, por favor, Gaby Amarantos na playlist: “Cachaça de jambu”. Porque depois do sucesso do BAS, a gente merece molhar a palavra, né? “Bora tremer com cachaça de jambu / Bora curtir cachaça de jambu / Bora brindar com cachaça de jambu / Eita bebida gostosa essa cachaça de jambu” |
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“A Natureza não faz milagres; faz revelações” Carlos Drummond de Andrade |
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Paulo MonteiroCofundador da Manioca e da Amazonique, indústrias de alimentos e de bebidas especializadas na biodiversidade da Amazônia. É cofundador e atual presidente da Associação dos Negócios de Bioeconomia da Amazônia (Assobio) e professor convidado de bioeconomia do Centro Universitário do Pará-CESUPA. |
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1) A Assobio foi criada em 2023 com o objetivo de representar as pequenas e médias empresas, que atuam com a sócio bioeconomia na Amazônia. De que maneira a associação pode contribuir com esse setor? |
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A Assobio é a primeira associação de negócios de bioeconomia da Amazônia em atuação no Brasil, até onde eu tenho conhecimento. Vale dizer que a maior parte das empresas associadas nasceu de 2019 para cá. Na prática, representamos um setor que é novo, apesar de reforçarmos o tempo todo que a bioeconomia não é uma novidade para a Amazônia; ela é realizada há gerações. Mas essa bioeconomia que está sendo vista pelo mundo e talvez gere mais e mais oportunidades de negócios que partem da floresta em pé e do bioma,acho que isso é um pouco novo, considerando negócios que exportam produtos para fora do estado, da região ou do Brasil. O nosso objetivo como associação é, em primeiro lugar, identificar nossas necessidades prioritárias e batalhar por elas. Posso dar alguns exemplos. Acabamos de fechar um contrato com a Azul Linhas Aéreas que nos dá um crédito bastante relevante para transportar de forma gratuita empreendedores da Assobio. Isso é um ponto super importante tanto para um empreendedor que não vive aqui, mas trabalha com a região, que é a nossa minoria, quanto para a nossa grande maioria, que vive e trabalha na região, mas precisa se deslocar para grandes centros consumidores, como São Paulo. Outro exemplo é o diálogo com o setor público. Acabamos de receber o anúncio da Secretaria de Meio Ambiente, que vai apoiar um projeto nosso que leva visibilidade, protagonismo e oportunidades comerciais para eventos importantes, como é o caso da COP. Outra é que a associação defende a importância dos pequenos e médios negócios, para que comecemos a ser percebidos pelos grandes tomadores de decisão, poder público, instituições privadas e financiadores, mostrando que não é possível pensar o desenvolvimento da Amazônia sem pensar nesse segmento. |
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2) O que é exatamente sócio bioeconomia e por que ela é importante? |
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Essa é uma pergunta de mestrado que não é respondida de maneira conclusiva por ninguém. Chamamos de sóciobioeconomia para destacar, primeiro, que temos um bioma muito característico, que é a Amazônia, e que esse bioma pode dar fruto a uma economia que seja capaz de nos trazer desenvolvimento, ou seja, uma melhor qualidade de vida. Mas que esse bioma só existe, é rico e permite utilizarmos os ingredientes, as plantas, as raízes, os medicamentos, enfim, todas essas oportunidades, porque temos uma sociedade, uma cultura, uma população amazônida que está acostumada a trabalhar com esse bioma há milênios. E que contribuiu para que esse bioma ficasse tão rico. Uma população que sabe muito bem quais são as melhores plantas, frutos, raízes que podem ser usadas na região e que têm aplicação útil para os seres humanos. A socioeconomia destaca que não estamos falando apenas de matérias-primas ou de nutrientes naturais, mastambém do uso e da interpretação que as pessoas que vivem na Amazônia dão para esses ingredientes. Para dar um exemplo bastante prático, costumo dizer que a mandioca dá no solo, mas a farinha não. A mandioca dá pra virar farinha, isso faz parte da nossa cultura tradicional, os processos para que isso aconteça também fazem parte da nossa cultura tradicional. Outro exemplo é a copaíba, que é um antifúngico importante que também usamos na região. É um uso que foi identificado pelas populações que vivem e viveram aqui há muito tempo. A minha casa, por exemplo, cresceu com cheiro de copaíba. A sociobioeconomia destaca que não é possível pensar em bioma sem pensar em gente. |
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3) Quais os maiores desafios para os empreendedores da sociobioeconomia da região? |
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Tudo aquilo que é um desafio regional também é um desafio enorme para os negócios, ou seja, o desafio logístico, o acesso à infraestrutura. Para você ter uma ideia, a energia elétrica aqui é mais que o dobro do que a média que se paga em São Paulo. Por ter uma distância maior, ter um custo logístico maior para entregar para os nossos clientes, também temos menos acesso ao mercado consumidor. Então muitas vezes vemos – eu mesmo fiz isso muitas vezes – empreendedores cometendo erros, achando que o consumidor de, por exemplo, São Paulo ou de algum outro grande centro, vai ter os mesmos hábitos ou consumos que nós. Outro ponto importante é que, para a bioeconomia, os programas, as infraestruturas, as iniciativas, os financiamentos são muito recentes. Reforçando o que já comentei, dos negócios da Assobio, que hoje são 74, 60% deles nasceram em 2019 ou depois. Então tem cinco anos ou menos. Estamos acessando essa oportunidade há pouco tempo. A novidade de todo esse setor de bioeconomia também é um desafio. A Manioca faz dez anos em 2024. Lembro que, em 2018, ainda não se falava nesse termo, bioeconomia, para os negócios. Outra coisa que vale mencionar é a dificuldade de acesso à mão de obra mais qualificada. Óbvio que isso não é uma crítica à nossa região, pelo contrário, é uma crítica ao Brasil, que olhou muito pouco para cá e deixou a gente com uma desigualdade tremenda em relação ao restante do país. Outro dia eu estava numa conferência do Instituto Ethos, e a minha colega de painel, que é da Embrapa, falou que 10% da verba de ciência e tecnologia do Brasil chega na Amazônia. E ocupamos 60% do território e temos 20% da biodiversidade do planeta inteiro. Então, esse desafio de acesso à ciência e tecnologia é algo bastante importante que deixa a gente pra trás na hora que de fazer inovações que dependem de ciência. Assim os nossos negócios ficam menos competitivos. A gente às vezes tem falado de Amazônia 4.0, mas a Amazônia 2.0 ainda não começou a acontecer aqui. Ainda temos, por exemplo, desafios para dominar técnicas muito básicas de engenharia de alimentos que foram descobertas há um século. |
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