Artigo de Gustavo Junqueira sobre Relação com Investidores esclarece dúvidas essenciais
A relação com investidores antes durante e depois do investimento
Gustavo Junqueira – Diretor da Inseed Investimentos, Membro do Comitê de Empreendedorismo, Inovação, Capital Semente e Venture Capital da ABVCAP
Esta é uma questão cada vez mais presente no cotidiano do empreendedor. Há uns anos, investidor era algo raro no mercado. Hoje, após a queda contínua dos juros e relativa estabilização econômica, o investimento na economia real começa a se tornar uma realidade. Falta muito para nos tornarmos uma economia dinâmica, com uma oferta grande de recursos para todos os estágios de empresas: desde startups até companhias em processo de abertura capital na bolsa de valores (IPO). Mas já podemos dizer que esta roda começou a girar e que a opção de receber investimentos está cada vez mais forte e próxima dos empreendedores. Esta novidade traz, porém, muitas dúvidas. Como funciona este negócio de venture capital? O que o investidor vai exigir de mim? Vou perder a liberdade? Voltar a ser empregado, depois de tanto esforço? O investidor vai valorizar tudo que conquistei até aqui? Quero alguém controlando cada passo meu? E se depois ele vender a minha empresa?
Mesmo para o empreendedor que encarou muitos desafios e incertezas, este novo passo desconhecido levanta medos e inseguranças. O que atrai neste caminho, normalmente, é a necessidade do recurso. O que seria possível fazer se você tivesse agora R$ 500 mil na conta? E R$ 5 milhões? Esta possibilidade é que ajuda o empreendedor a entrar neste novo mundo. De fato, a restrição financeira costuma ser muito importante, talvez “capital”, com o perdão do trocadilho. Mas, atenção: o recurso é importante, no entanto é apenas parte da equação e nem sempre a preponderante! Uma vez removida esta restrição, várias outras aparecem… e muitas vezes mais importantes e complicadas. Nesta hora, o investidor pode fazer uma grande diferença com o conhecimento (descritivo) e experiência (sentida) destes novos desafios não originalmente mapeados.
O investidor traz consigo, entre outras coisas, uma forte necessidade de transparência, governança e alinhamento. Estas três variáveis são capazes de realizar uma grande mudança interna na empresa investida e, consciente ou inconscientemente, preparam e ajudam a companhia para alcançar um novo patamar de crescimento.
Vamos falar um pouco mais de cada uma destas variáveis:
1) Transparência: o investidor precisa de informação. Antes, durante e após o investimento. O empreendedor tem a capacidade de tocar o negócio com todas as informações na cabeça. Mas a partir do momento que um novo sócio, que está fora da operação, precisa entender o que está acontecendo… aí a empresa precisa ter informações rápidas, disponíveis e organizadas. Isso pressupõe previsão precisa de fluxo de caixa, contabilidade funcional, indicadores chave, enfim: estrutura, processos e disciplina. Como estão estas questões na sua empresa? Aparentemente, tudo isso vai sendo desenvolvido para atender a necessidade do investidor mas logo a empresa percebe que a maior usuária destas informações é ela mesma. Estas ferramentas são fundamentais para o crescimento e produtividade, para decisões rápidas e precisas, para descentralizar o conhecimento e diminuir a dependência do empreendedor. A consequência disto, por si só, pode ser bem maior a médio prazo do que o investimento financeiro.
2) Governança: primeiro, o que é isto? Numa visão simples, é como se organiza o poder decisório da empresa. Quem pode decidir cada tipo de assunto. A grosso modo, questões operacionais ficam a cargo da Diretoria, questões estratégicas ficam sob responsabilidade do Conselho de Administração, e questões societárias por conta da Assembleia. Esta separação de poderes tem um efeito enorme na empresa. Primeiro ela exige que os interesses e visões pessoais sejam separados dos interesses e visões da empresa. A pessoa jurídica ganha corpo e alma próprios, mais independente, com voz própria. A pergunta deixa de ser “o que eu quero?” e passa a ser “o que é melhor para a empresa?”. O empreendedor começa a observar que há o papel executivo e o papel acionista. E isto muda muita coisa… Em segundo lugar, esta governança exige o estabelecimento de ritmos. As reuniões mensais ou trimestrais servem como um “bumbo” que faz a marcação do ritmo e vira referência para todos os demais instrumentos. Por último, mas igualmente fundamental: nestas reuniões, o “importante” toma espaço do “urgente”. O empreendedor normalmente é sugado no dia a dia pelas questões operacionais, clientes, equipe, fluxo de caixa, etc. Estas reuniões mais estratégicas, com uma visão do todo, obrigam a colocação em pauta das questões importantes da empresa, que muitas vezes ficavam “para quando der tempo”.
3) Alinhamento: o interesse do investidor é basicamente a multiplicação do capital. Ele quer comprar uma participação acionária que depois de um tempo possa valer X vezes o valor investido. Logo, claramente, a questão do investidor em suas interações com a empresa é “como fazê-la se valorizar”. Ter um sócio com o objetivo explícito desta natureza é muito bom para a empresa. Equipe, fornecedores, clientes, conseguem também entender esta mensagem. É alguém para estar ali do lado, para não deixar a turma acomodar, nem fugir do foco, ou se perder. Alguém que estará ali nos momentos bons e nos momentos ruins. Para trazer imagens e contribuições às vezes diferentes dos empreendedores, e com isso enriquecer os debates. As experiências dos investidores podem fazer muita diferença no negócio. O fato de terem passado por experiências semelhantes permite agregar valor na superação de novos desafios. É muito diferente o conhecimento adquirido em uma sala de aula ou um livro, quando comparado à experiência vivida e o aprendizado internalizado. Neste caso, para o alinhamento, o empreendedor precisa escolher entre i) o investidor puramente financeiro, que coloca o dinheiro e depois acompanha mais de longe o investimento; ii) e o investimento co-empreendedor, que participa ativamente das decisões. Qual o tipo de investidor você quer? Qual o tipo de investidor você precisa? Vale a reflexão.
Estas consequências naturais do investimento, acima mencionadas, muitas vezes são tão ou mais importantes do que o recurso financeiro. E, para que sirvam como um movimento espiral crescente, trazendo valor para todos, a premissa básica é a qualidade da relação a ser estabelecida. É fundamental que se consiga estabelecer uma relação de confiança. O “santo tem que bater”. Serão muitos anos juntos, com muitos desafios, muitas divergências de opiniões e pensamentos. A partir da relação de confiança e alinhamento, estas diferenças se tornam aprendizados mútuos e valor agregado, pois é com base nisso que o novo é gerado. Se você está motivado e preparado a entrar nesta jornada, os resultados podem ser muito maiores do que você imagina.
Fonte: ABVCAP
A relação com investidores antes durante e depois do investimento
Gustavo Junqueira – Diretor da Inseed Investimentos, Membro do Comitê de Empreendedorismo, Inovação, Capital Semente e Venture Capital da ABVCAP
Esta é uma questão cada vez mais presente no cotidiano do empreendedor. Há uns anos, investidor era algo raro no mercado. Hoje, após a queda contínua dos juros e relativa estabilização econômica, o investimento na economia real começa a se tornar uma realidade. Falta muito para nos tornarmos uma economia dinâmica, com uma oferta grande de recursos para todos os estágios de empresas: desde startups até companhias em processo de abertura capital na bolsa de valores (IPO). Mas já podemos dizer que esta roda começou a girar e que a opção de receber investimentos está cada vez mais forte e próxima dos empreendedores. Esta novidade traz, porém, muitas dúvidas. Como funciona este negócio de venture capital? O que o investidor vai exigir de mim? Vou perder a liberdade? Voltar a ser empregado, depois de tanto esforço? O investidor vai valorizar tudo que conquistei até aqui? Quero alguém controlando cada passo meu? E se depois ele vender a minha empresa? Mesmo para o empreendedor que encarou muitos desafios e incertezas, este novo passo desconhecido levanta medos e inseguranças. O que atrai neste caminho, normalmente, é a necessidade do recurso. O que seria possível fazer se você tivesse agora R$ 500 mil na conta? E R$ 5 milhões? Esta possibilidade é que ajuda o empreendedor a entrar neste novo mundo. De fato, a restrição financeira costuma ser muito importante, talvez “capital”, com o perdão do trocadilho. Mas, atenção: o recurso é importante, no entanto é apenas parte da equação e nem sempre a preponderante! Uma vez removida esta restrição, várias outras aparecem… e muitas vezes mais importantes e complicadas. Nesta hora, o investidor pode fazer uma grande diferença com o conhecimento (descritivo) e experiência (sentida) destes novos desafios não originalmente mapeados. O investidor traz consigo, entre outras coisas, uma forte necessidade de transparência, governança e alinhamento. Estas três variáveis são capazes de realizar uma grande mudança interna na empresa investida e, consciente ou inconscientemente, preparam e ajudam a companhia para alcançar um novo patamar de crescimento. Vamos falar um pouco mais de cada uma destas variáveis: 1) Transparência: o investidor precisa de informação. Antes, durante e após o investimento. O empreendedor tem a capacidade de tocar o negócio com todas as informações na cabeça. Mas a partir do momento que um novo sócio, que está fora da operação, precisa entender o que está acontecendo… aí a empresa precisa ter informações rápidas, disponíveis e organizadas. Isso pressupõe previsão precisa de fluxo de caixa, contabilidade funcional, indicadores chave, enfim: estrutura, processos e disciplina. Como estão estas questões na sua empresa? Aparentemente, tudo isso vai sendo desenvolvido para atender a necessidade do investidor mas logo a empresa percebe que a maior usuária destas informações é ela mesma. Estas ferramentas são fundamentais para o crescimento e produtividade, para decisões rápidas e precisas, para descentralizar o conhecimento e diminuir a dependência do empreendedor. A consequência disto, por si só, pode ser bem maior a médio prazo do que o investimento financeiro. 2) Governança: primeiro, o que é isto? Numa visão simples, é como se organiza o poder decisório da empresa. Quem pode decidir cada tipo de assunto. A grosso modo, questões operacionais ficam a cargo da Diretoria, questões estratégicas ficam sob responsabilidade do Conselho de Administração, e questões societárias por conta da Assembleia. Esta separação de poderes tem um efeito enorme na empresa. Primeiro ela exige que os interesses e visões pessoais sejam separados dos interesses e visões da empresa. A pessoa jurídica ganha corpo e alma próprios, mais independente, com voz própria. A pergunta deixa de ser “o que eu quero?” e passa a ser “o que é melhor para a empresa?”. O empreendedor começa a observar que há o papel executivo e o papel acionista. E isto muda muita coisa… Em segundo lugar, esta governança exige o estabelecimento de ritmos. As reuniões mensais ou trimestrais servem como um “bumbo” que faz a marcação do ritmo e vira referência para todos os demais instrumentos. Por último, mas igualmente fundamental: nestas reuniões, o “importante” toma espaço do “urgente”. O empreendedor normalmente é sugado no dia a dia pelas questões operacionais, clientes, equipe, fluxo de caixa, etc. Estas reuniões mais estratégicas, com uma visão do todo, obrigam a colocação em pauta das questões importantes da empresa, que muitas vezes ficavam “para quando der tempo”. 3) Alinhamento: o interesse do investidor é basicamente a multiplicação do capital. Ele quer comprar uma participação acionária que depois de um tempo possa valer X vezes o valor investido. Logo, claramente, a questão do investidor em suas interações com a empresa é “como fazê-la se valorizar”. Ter um sócio com o objetivo explícito desta natureza é muito bom para a empresa. Equipe, fornecedores, clientes, conseguem também entender esta mensagem. É alguém para estar ali do lado, para não deixar a turma acomodar, nem fugir do foco, ou se perder. Alguém que estará ali nos momentos bons e nos momentos ruins. Para trazer imagens e contribuições às vezes diferentes dos empreendedores, e com isso enriquecer os debates. As experiências dos investidores podem fazer muita diferença no negócio. O fato de terem passado por experiências semelhantes permite agregar valor na superação de novos desafios. É muito diferente o conhecimento adquirido em uma sala de aula ou um livro, quando comparado à experiência vivida e o aprendizado internalizado. Neste caso, para o alinhamento, o empreendedor precisa escolher entre i) o investidor puramente financeiro, que coloca o dinheiro e depois acompanha mais de longe o investimento; ii) e o investimento co-empreendedor, que participa ativamente das decisões. Qual o tipo de investidor você quer? Qual o tipo de investidor você precisa? Vale a reflexão. Estas consequências naturais do investimento, acima mencionadas, muitas vezes são tão ou mais importantes do que o recurso financeiro. E, para que sirvam como um movimento espiral crescente, trazendo valor para todos, a premissa básica é a qualidade da relação a ser estabelecida. É fundamental que se consiga estabelecer uma relação de confiança. O “santo tem que bater”. Serão muitos anos juntos, com muitos desafios, muitas divergências de opiniões e pensamentos. A partir da relação de confiança e alinhamento, estas diferenças se tornam aprendizados mútuos e valor agregado, pois é com base nisso que o novo é gerado. Se você está motivado e preparado a entrar nesta jornada, os resultados podem ser muito maiores do que você imagina. Gustavo Junqueira é Diretor da Inseed Investimentos e Membro do Comitê de Empreendedorismo, Inovação, Capital Semente e Venture Capital da ABVCAP. Empreendeu diretamente 3 negócios e investiu em mais 4 entre 2002 e 2007 (4 deles investidos por capitalistas). E, através da Inseed, trabalhou no investimento de 37 empresas desde 2008, no Fundo Criatec e Fundo Inseed FIMA, com R$ 265 milhões sob gestão. Fonte: ABVCAP