Ford

A engenhosa ideia de Henry Ford

No começo dos anos 1930, o empresário Henry Ford tinha um problema em suas mãos: em meio a uma crise generalizada nos EUA, brigas com cartéis e racionamento de aço, ele precisava encontrar uma forma alternativa para continuar produzindo seus carros a um preço acessível. Uma de suas saídas foi olhar para o campo, partindo de materiais como soja, trigo, milho e cânhamo para imaginar um automóvel feito de “plástico agrícola”. Após anos de pesquisa e financiamento, Ford apresentou ao público em 1941 o Soybean Car, um carro-conceito que era uma tonelada mais leve que os veículos da época e, se produzido em massa, ajudaria o país a economizar cerca de 10% de sua produção total de aço. E mais: o bólido rodaria com combustível também gerado a partir da queima do cânhamo.

Imagem do “Soybean Car” retirada do acervo do The Henry Ford Foundation.

Os planos de Ford, naquela altura com mais de 70 anos, não eram exatamente isolados: eles se baseavam na “quimurgia”, uma área da agroquímica que pode ser considerada uma espécie de avó da bioeconomia – como mostra um recente artigo publicado pela Universidade de Cambridge. Estabelecida por volta dos anos 1920, a quimurgia (ou “chemurgy”, em inglês) andava bastante em voga naqueles tempos bicudos – em especial, no Sul dos Estados Unidos, região que sofria, mesmo depois de décadas, com os estragos da Guerra Civil Americana em meados do século XIX.

Ele também fazia tinta a partir de cerâmica, usada em pinturas que ele mesmo criava – a polivalência fez o cientista ser chamado de “Leonardo da Vinci negro” pela revista Time, a bíblia dos magazines durante décadas, em 1941. “Use de tudo. Do que você tem, você fará o que quer”, disse o polímata à publicação na época, em um slogan que não faria feio como explicação da bioeconomia moderna.

Aliás, a primeira definição oficial de “bioeconomia”, vale dizer, só surgiria décadas depois: em 2012, quando a Comissão Europeia definiu a área como “a produção de recursos biológicos renováveis e a transformação desses recursos (e seus descartes) em produtos de valor agregado como comida, fertilizantes e combustíveis”.

Já o carro de soja da Ford não foi adiante, é bom a gente lembrar, porque com a entrada dos EUA na Segunda Guerra Mundial, a produção de veículos no país foi paralisada. Daí, quando o conflito acabou, Henry Ford já vivia seus últimos anos e a economia e geopolítica global já haviam se reconfigurado de tal forma que o petróleo se tornou dominante. E não é à toa que essa conversa é retomada lá nos anos 1970: com as duas crises do petróleo, o mundo começa a se dar conta de que não pode depender só dessa matriz, o que leva à criação de programas como o nosso Pró-Álcool – sim, um pioneiro exemplo de bioeconomia verde-amarelo.

Mas afinal: por que estamos tratando disso na newsletter da KPTL?

Porque é preciso. É necessário. E porque está no centro de nossos valores.

Nessa retomada de nossa news, que você vai receber todo mês, para nós é claro que a avó da bioeconomia tem muito a ver com o que fazemos por aqui: a busca por inovação que transforma realidades, gerando valor para sociedade e riqueza para o maior número de pessoas.

Decidimos também que era hora de voltar a esta newsletter porque há muitas boas histórias para contar depois de um movimento sísmico como foi a pandemia. Estamos num mundo novo, em que as pessoas têm novas prioridades, o trânsito aparece em novos horários e as cidades se movimentam de maneira diferente – até mesmo o happy hour mudou de dia, não é mesmo? (Aliás, por falar em happy hour, essa história do Henry Ford e o carro de soja é uma trivia boa pra quando você ficar sem assunto…)

Vamos nessa?

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Para você, como 2024 será diferente de 2023?