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Newsletter | A revolução do Agro Brasileiro

John Pierpont Morgan (aka JP Morgan) tinha uma paixão por canetas cravejadas com diamantes. Sabendo disso, um dia, o joalheiro Charles Tiffany mandou para ele uma caixa com uma dessas canetas. Junto havia um bilhete dizendo que devido à raridade da peça, ela custaria US$5 mil. Caso ele gostasse, deveria enviar um cheque nesse valor para a joalheria no dia seguinte. Caso não gostasse, deveria devolver a caixa com a caneta. No dia seguinte, Tiffany recebeu a mesma caixa com um novo bilhete, elogiando a peça mas dizendo que tinha achado caro. Junto com o bilhete havia um cheque de US$4 mil. Caso ele aceitasse, ele deveria enviar a caixa novamente e ficar com o cheque. Caso não aceitasse, ficaria com a caixa e enviaria o cheque de volta. Ele escolheu a segunda opção, pois estava seguro do valor que a caneta valia. Portanto, devolveu o cheque e ficou com a caixa. Porém, ao abrir a caixa, para sua surpresa, a caneta não estava lá. Em seu lugar havia um cheque de US$5 mil e um bilhete dizendo “Apenas checando o preço”.

Story of the week

 

 

Mariana Caetano é de Araguari, Minas Gerais. Nascida e crescida. Quando criança, vivenciou um ainda inédito mix do mundo de agricultura com tecnologia. Seu pai era um importante nome no cenário de café, foi presidente da Associação de Cafeicultores de Araguari por 18 anos, além de pequeno produtor. Mas ele também era um aficionado por tecnologia. Seu hobby era ser cineasta e para isso colecionada tudo que tinha de mais moderno em equipamentos. Desde os 12 anos de idade, a Mari saia da escola direto para a Associação acompanhar reuniões e trabalhar com o pai.

Aos 16 anos, ela foi fazer um intercâmbio em Kentucky. Foi a primeira intercambista de sua cidade. Conhecer um brasileiro era algo tão distante para os americanos de lá que achavam que a Mari só podia ser a filha do Pablo Escobar. Voltou para o Brasil ainda confusa com o que queria fazer da vida e acabou entrando no curso de Letras do Mackenzie. Mas não demorou para ela perceber que não era aquilo que ela queria.

Um belo dia foi visitar a BM&F junto com o pai. Presenciar o pregão ao vivo a encantou e ela decidiu entrar no curso de Comércio Exterior na Mackenzie. Porém, um ano antes de se formar, ela largou tudo e se mudou para Uberlândia para trabalhar na Syngenta. Nos anos seguintes, passou por alguns lugares importantes do setor agrícola antes de ser convidada pelo Dr. Flavio Guimarães, dono do banco BMG, para tocar a fazenda de café do grupo. Ele ouviu de muitos que era um absurdo contratar uma mulher para trabalhar no campo, mas não se importou e deu todo o suporte para ela.

A fazenda possuía mil hectares e 70 pessoas que moravam e trabalhavam por lá; em um ambiente que a Mari classificou como insalubre. Era sujo, havia brigas entre os colaboradores, um problema sério de alcolismo no trabalho, desorganização na gestão, entre outras coisas. Alguns já estavam lá a décadas e viam aquilo como a realidade, como o normal. Mas a Mari resolveu desafiar o status quo. Para vencer a resistência a isso, criou a desculpa de que precisavam tirar uma certificação internacional, no caso a Rainforest Alliance, que é a principal certificação ambiental para café no mundo. Presente em diversos países, conta com grandes nomes envolvidos, até a Gisele Bündchen foi board lá. Dessa forma, sempre que reclamavam das mudanças que a Mari implementava, ela culpava as exigências da certificação.

Limpeza

A primeira coisa que Mari fez foi uma faxina. E fez com criatividade. O que antes era um local de entulhos, um verdadeiro lixão, ela transformou em uma floresta de visitantes. Cada cliente que vinha, plantava uma árvore, ou seja, se tornava parte da fazenda.

Capacitação

A fazenda montou uma escola de alfabetização (com provas validadas pelo MEC), aberta para toda a fazenda e para quem quisesse da comunidade. No primeiro ano, alfabetizou 18 pessoas. Além disso, o que não se ensinava na escola, a fazenda pagava para que fizessem o supletivo na cidade, com o objetivo de concluir o ensino médio. Antes era uma equipe com enormes dificuldades de aprender. Com o tempo, ficaram cada vez mais capacitados.

Tratamento Humano

“Senhora, se você não xingar o povo aqui eles não te obedecem.” Isso era o que a Mari ouvia quando chegou lá. Ela era brava, mas nunca gritava, falava sempre manso. Conseguiu conquistar o respeito sem humilhar ninguém, nunca teve problema de insubordinação. Na visão dela, o ser humano, independente de quem seja, busca sempre ser reconhecido. E por isso ela começou a ouvi-los. Abriu um canal de comunicação direta para sugestões e reclamações. Da demanda por mais carne na marmita a um campo de futebol para jogar de tarde, Mari sempre ouvia e respondia a todos. Mesmo quando não podia atender a solicitação, explicava muito detalhadamente o porquê.

Por tocar uma importante fazenda exportadora, ela viajava internacionalmente a cada 45 dias, se reunia com CEOs de multinacionais e participava das principais feiras mundiais de café. Mas para ela não importa se é jantar black tie na Suíça ou o cafezinho e bolo com na fazenda. A Mari gosta é de gente, independente de quem seja.

Com o tempo, a sua gestão surtiu efeitos. A fazenda tirou a certificação e começou a ganhar vários prêmios. Os produtores começaram a se sentir responsáveis por aquilo. Começaram a se orgulhar do seu trabalho para os seus filhos. Com isso, mesmo não pagando os melhores salários, a rotatividade se aproximou de zero.

Tecnologia

Quando a Mari chegou lá, a fazenda até usava um sistema de gestão de irrigação israelense. Mas a baixa escolaridade dos trabalhadores de lá, tornava o BI e todos os seus gráficos difíceis de entender e, portanto, inútil. Durante os muitos anos a frente da fazenda, Mari testou de tudo. Percebia que estava à frente dos outros, porque recebia muitos pedidos de visita de fazendeiros. Testou muitas empresas de drone que não funcionavam para café, muitos softwares de gestão cuja implementação e uso eram mais impossíveis que as missões do Tom Cruise.

Eventualmente, algumas soluções funcionavam bem, mas ficou muito claro que muitos dos empreendedores das AgTechs ainda não conseguiam entender a fundo a necessidade do produtor. Não entendiam o operacional do dia a dia. Não bastava a solução dizer que aquele era o melhor dia para irrigar se o software não conseguia entender que talvez naquele dia a barragem estava seca e não tivesse água. Também via muitos testes de performance dos produtos sendo conduzidos quase em uma estufa de laboratório, totalmente despreparados para enfrentar diferentes regiões e seus micro climas.

Mas a velocidade de transformação geracional está intensa. Os jovens fazendeiros estão vindo, de fato com uma cabeça mais moderna. O que falta é uma melhor referência do que se pode aplicar de tecnologia em uma fazenda, como fazer aquilo da maneira mais efetiva. Por isso que o momento é precioso. AgTechs capitalizadas, com um bom produto, vão ter um oceano azul para se posicionarem forte no mercado. Estamos à beira de uma revolução agro.

Nova aventura

Em 2020, a Mari se juntou à KPTL para liderar o nosso fundo AgriTech, que começou ano passado e já fez três investimentos. Acreditamos que aliar o know-how de inovação e investimento da KPTL com alguém que realmente entende do campo será essencial para surfar essa revolução. Conforme vimos em sua trajetória, ela sempre gostou de agro, tecnologia e de ajudar pessoas. Chegou a hora de juntar tudo isso.

 

“Passou a fase da agricultura de produtos para a fase da agricultura de conhecimento”

Dirceu Gassen