O prédio acima é conhecido como CopenHill. Localizado na Dinamarca, ele é uma da maiores e mais eficientes plantas de gerenciamento de resíduos e recuperação de energia do mundo. Utilizando o que há de melhor em tecnologia, CopenHill posuem uma série de fornos e turbinas capazes de converter todos os anos mais de 440.000 toneladas de resíduos para gerar energia limpa suficiente para uma cidade de até 150.000 casas.
Mas esse prédio é muito mais que uma usina de energia, ele conta com uma pista de esqui na cobertura, uma trilha para caminhadas até o topo e a mais alta parede de escalada do mundo. Incorporando uma série de princípios sustentáveis, o edifício está alinhado com o objetivo da capital dinamarquesa em se tornar a primeira cidade neutra em emissões de carbono do planeta até 2025.
Portanto, com tecnologia e criatividade, os dinarmaqueses tornaram o lugar menos desejável de se estar em uma das principais atrações de lazer da região. Que aula!
Como seria o nosso planeta caso a principal matéria-prima da economia mundial passasse a ser não apenas limpa, mas abundante e barata?
Transição lenta e gradual? Quando vemos a evolução do consumo de energia no mundo fica a impressão de que a transição para as fontes renováveis será forçosamente um processo longo e gradual, justificando a angústia pelo aquecimento global e garantindo uma sobrevida minimamente tranquila aos petróleo dependentes. O petróleo levou cerca de 30 anos (de 1945 a 1975) para elevar a sua participação de 10% para 40% da matriz energética mundial, enquanto o gás natural levou 70 anos (de 1950 a 2020) para alcançar 20% aproximadamente. Embora seja lugar comum prever uma forte expansão das renováveis, poucos parecem dispostos a colocar o escalpo numa redução mais abrupta do uso de fósseis na geração elétrica. |
Turning Point |
Até aqui a transição energética foi puxada pelas tentativas de reação ao aquecimento global, regadas por toneladas de subsídios, mas com alcance limitado. Mas o que o histórico de outras tantas corridas tecnológicas nos mostra é que a partir do momento em que a tecnologia nova se torna também a mais eficiente, o processo de substituição passa por um ponto de inflexão e a tecnologia até então dominante é rapidamente subjugada. Se a geração eólica já vinha mostrando crescente competitividade nos últimos 10 anos, mais recentemente isso passou a valer também para a geração solar. Em 2020, entramos em um estágio em que os novos projetos de energia fotovoltaica e eólica já se tornaram a fonte mais barata de energia nova na maior parte dos países, segundo a IEA (International Energy Agency). Para as próximas décadas, espera-se que os ganhos de escala e inovações incrementais ampliem essa vantagem em relação aos combustíveis fósseis. |
E o ouro negro desbotou |
Com as fontes renováveis em franca vantagem econômica e um mundo pós-Trump que consolida o consenso a favor de ações ambientais mais incisivas, não haveria porque ser tão pessimista quanto a probabilidade de o planeta perseguir as metas do Acordo de Paris visando limitar o aquecimento a menos de 2ºC. Este cenário embute efeitos significativos sobre a demanda por combustíveis fósseis: quedas próximas a dois terços no consumo do carvão, um terço no caso do petróleo e 10% do gás natural nos próximos 20 anos. O impacto sobre os preços seria dramático. Mesmo nos cenários mais conservadores sobre a transição energética já se vê um crescimento quase nulo para o consumo de petróleo nos próximos 10 e 20 anos. |
Para onde vamos?
Alguns impactos do novo mundo da energia barata são fáceis de prever mas nem por isso pouco relevantes. Por representar o principal custo da economia mundial, pode-se contar com um salto de produtividade e renda em todo o mundo. A pista mais óbvia sobre onde estão as maiores oportunidades são os setores mais demandantes de energia. A indústria eletrointensiva é liderada com folga pela metalurgia dos não ferrosos (princ. alumínio), seguida pelo blocão mineração, siderurgia, minerais não metálicos (cimento, cerâmicos, vidro) e papel & celulose. Outro grande beneficiário é a indústria petroquímica, com destaque para a cadeia do plástico e fertilizantes. Mas sem surpresas, o maior impulso irá para o setor de transportes, que devora mais energia que o conjunto da indústria ou das residenciais. E é aqui que as coisas começam a ficar interessantes. Com a localização de toda a atividade econômica ditada pela lei da conservação da energia, o choque negativo dos preços vai gerar um poderoso incentivo para a desconcentração. Perdem os grandes centros urbanos e ganham as pequenas e médias cidades. Essa redução de custos deve ser insuficiente para fazer frente ao impacto do teletrabalho e dos tele serviços (educação, saúde) sobre a demanda por mobilidade urbana. Porém, se o turismo já vinha turbinado pela alta elasticidade-renda e a substituição da demanda por bens pela demanda por experiências, marca das novas gerações, a redução dos custos com combustíveis é a peça que faltava para uma explosão das viagens de passeio. Alô aéreas, o Corona vai passar! Agora, legal mesmo é filosofar sobre os infinitos negócios impedidos de nascer naquele mundo velho de energia cara. Ah, o Ceará vai começar a se abastecer da água do mar. Cool. |