Lembra as finais de Copa do Mundo, mas não é. Parece a decisão da ginástica artística, envolvendo a Rebecca Andrade, mas não também. Traz aquele gostinho de tema da vitória do Ayrton Senna na Fórmula Um, mas só nos faz recordar, porque passa longe. Agora, o que une todos esses eventos acima e a 30° Conferência das Partes (COP) da Convenção das Nações Unidas sobre Mudança Climática, que vai acontecer entre 10 e 21 de novembro de 2025, em Belém (PA)? Acertou, quem respondeu: ansiedade. Como diria Galvão Bueno – um dos maiores locutores esportivos do mundo: “Haja, coração!”. Ou seja, o País, o mundo, as pessoas estão ansiosas, porque pela primeira vez a conferência será realizada na região Amazônica, que catalisa sempre qualquer assunto sobre clima e soluções. É um marco! “Através da Rede de Soluções para o Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (SDSN), que é uma instituição ligada às Nações Unidas, participamos de processos relacionados às mudanças climáticas. E estivemos em todas as COPs desde a criação da FAS, tanto nas de biodiversidade quanto nas de clima”, lembra Virgilio Viana, Superintendente-Geral da Fundação Amazônia Sustentável (FAS), que corrobora com o momento histórico. Marco ou fato histórico que obviamente não esconde as dificuldades naturais de se fazer um evento desse porte nesse ecossistema. Até porque os mesmos obstáculos enfrentados para se organizar a COP em Belém são os mesmos do dia a dia da região, não só para proteger a floresta, mas fundamentalmente para levar qualidade de vida às pessoas. E é bom que todos tomem contato com essa realidade, o que acaba sensibilizando e fomentando iniciativas das mais diversas. |
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“Ter uma COP no Brasil já seria suficientemente um feito. Agora, na Amazônia muda tudo. Muda contexto, projeção e fomenta soluções de uma maneira bastante impactante. Para nós, faz todo sentido, uma vez que estamos nessa agenda do clima há pelo menos uma década”, afirma Renato Ramalho, CEO da gestora de fundos Venture Capital KPTL. |
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| | Renato Ramalho, CEO da KPTL. (Foto: Gil Silva) |
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Mas como diria o poeta, nada anda sem “money”. No melhor estilo, para rir, tem que fazer rir, tirar o petróleo da jogada e substituí-lo pelas dezenas de soluções ecologicamente corretas depende de tempo e dinheiro. E muito. Dos dois. No País Tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza , o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) apertou o “enter”, quando o assunto é transição energética, como também o Eco Invest do Tesouro do Brasil. Nova modalidade de investimento sustentável desenhada pelo governo federal, o Eco Invest está inserido no contexto do Tesouro Direto, que tem como foco títulos públicos verdes. Or green bonds, if you prefer… São três iniciativas do Eco Invest, que podem injetar ao redor de R$ 15 bilhões em movimentos carimbados com o selo verde. |
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“Este leilão marca um avanço na atuação do Eco Invest Brasil ao estruturar soluções financeiras capazes de destravar capital global para cadeias produtivas da biodiversidade, turismo sustentável e restauração com infraestrutura habilitante. Com proteção cambial e instrumentos que elevam a bancabilidade dos projetos, o Brasil expande as fronteiras da bioeconomia e posiciona a Amazônia como destino estratégico para investimentos verdes de impacto e longo prazo”, explica Mario Augusto Gouvêa de Almeida, Coordenador do Eco Invest. |
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| | Mario Augusto Gouvêa de Almeida, Coordenador do Eco Invest. (Foto: Divulgação) |
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Já o BNDES, em outubro deste ano, a pouco mais de 30 dias da COP, aprovou um investimento de R$ 100 milhões (com recursos do Fundo Clima) para a Belterra Agroflorestas. A meta é ampliar seus sistemas agroflorestais em áreas degradadas nos Estados da Bahia, Pará, Rondônia e Mato Grosso. Serão alvo desse movimento cerca de 2,750 mil hectares até 2027, o que representa perto de 850 mil toneladas em sequestro de carbono, sendo que o investimento total alcança R$ 135 milhões. |
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“Nesta operação com o Grupo Belterra, o BNDES usa crédito, inovação e inclusão para transformar áreas degradadas em polos de floresta e alimento”, afirma o presidente da instituição, Aloizio Mercadante. “É um modelo que gera renda para pequenos produtores e combate as mudanças climáticas, mostrando que a restauração ecológica é também uma oportunidade econômica para o Brasil”, completa. |
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| | Aloizio Mercadante, Presidente do BNDES. (Foto: Site de BNDES) |
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Contudo, a iniciativa em direção a projetos sustentáveis é global. Tanto que o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) montou uma verdadeira máquina de financiamento para a Amazônia. Em junho, assinou um cheque de US$ 2-5-0 m-i-l-h-õ-e-s. Sim, você leu corretamente. Mais de R$ 1,250 bilhão, a um câmbio de R$ 5 – sei que o valor não é esse, mas vamos combinar que facilita qualquer regrinha de três -, e que está desenhado da seguinte forma: US$ 175 milhões do próprio BID e US$ 75 milhões do Fundo Verde para o Clima para o Programa BB Amazônia, com o centenário Banco do Brasil como parceiro. Mas para onde vai tamanha bolada? Calma… Vamos explicar. Os alvos são bioeconomia e infraestrutura sustentável, com foco em energia renovável e conectividade digital. Onde? Bingo: Amazônia Legal. Com essa dinheirama toda, a expectativa é apoiar até 11,7 mil negócios e empreendimentos locais e de diferentes tamanhos. De micro a médios, incluindo cooperativas e iniciativas lideradas por mulheres, destravando crédito onde ele raramente chega. Mas não acabou. O pacote ainda inclui subvenção de US$ 8,8 milhões para cobrir perdas e, assim, viabilizar crédito a projetos com risco maior, sem matar a inovação na largada. É o dinheiro como escada rolante. Funcionando como ponte para a escala. |
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A esta altura, já deu para sacar que COP30 rima com investimento peso-pesado em economia verde. Entonces, nada mais justo que o lendário Prêmio Nobel de Economia desembarcar em temas nunca antes observados. Como foi na edição deste ano. O Prêmio Nobel de Economia em 2025 foi para Joel Mokyr, Philippe Aghion e Peter Howitt pelos seus estudos sobre crescimento econômico impulsionado pela inovação. E diga-me, o que não seria a economia verde, a economia de impacto, se não fosse movida pela inovação? Pois… Mokyr, por exemplo, foi premiado por identificar as condições necessárias para o progresso econômico acontecer de forma contínua, sem longos períodos de estagnação. Já Aghion e Howitt levaram o caneco pela teoria do crescimento baseada na “destruição criativa” – que nome maravilhoso, frise-se. Essa denominação abraça as inovações que melhor substituem as anteriores. F-a-n-t-a-s-t-i-c! “É impressionante que esse trio de economistas apresente uma teoria segundo a qual o crescimento econômico depende da inovação tecnológica. É outro marco, às portas da COP30”, afirma Ramalho, que tem mestrado na matéria pela Escola de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP). De fato. Incrível. No nosso caso aqui, em Terra Brasilis, pense em ideias para dar um empurrãozinho na transformação de um modelo econômico que ainda queima carbono. |
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Pedro Howitt, Filipe Aghion e Joel Mokyr, vencedores do prêmio Sveriges Riksbank em Ciências Econômicas em Memória de Alfred Nobel 2025. (Foto: adaptado do Site The Nobel Prize) |
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O conceito de “destruição criativa”, portanto, é muito relevante quando falamos sobre a transição ecológica: inovar e substituir modelos poluentes por soluções mais eficientes e sustentáveis é o futuro desejado por todos. E o Brasil tem tudo para ser o protagonista dessa mudança. Mas, para isso, não podemos só ficar observando. Precisamos agir. Agir como tem procurado fazer o GCF Task Force (Global Climate Governors’ Task Force), grupo de governadores de diferentes países (incluindo os da Amazônia brasileira) criado em 2008 pelo Exterminador do Futuro, o nosso velho conhecido Arnold Schwarzenegger. Colleen Scanlan Lyons, Diretora de Projetos da GCF, dá a letra. Ela destaca que a colaboração entre governos estaduais é a chave para a eficiência das políticas climáticas. |
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“Não há uma solução única para todos. Cada estado tem suas particularidades e é justamente isso que torna as estratégias locais tão eficazes”, explica Colleen, com a convicção de quem conhece o mapa da mina. O GCF tem 45 estados e províncias de 11 países e, claro, os governadores estão aí para arrumar a casa – no caso, o combate ao desmatamento e o desenvolvimento sustentável. |
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| | Colleen Scanlan Lyons, Diretora de Projetos da GCF. (Foto: Divulgação) |
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Na COP30, os olhos estarão voltados para a Amazônia. E, vamos combinar, o Brasil tem uma posição privilegiada. Temos um potencial único de liderar a agenda verde mundial, com uma matriz elétrica majoritariamente renovável e a maior biodiversidade do planeta. A fórmula para a mudança não poderia ser mais clara. Colleen vê os estados amazônicos como peças-chave nesse tabuleiro. Acre, Amazonas, Pará e Amapá já estão dando os primeiros passos com planos de bioeconomia e desenvolvimento sustentável. E, para quem tem dúvida, a COP30 será o palco para esses planos serem apresentados ao mundo. É como um grande evento de lançamento onde, em vez de novos smartphones, vamos alavancar um modelo de desenvolvimento sustentável de baixo carbono. |
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Chalé na Ilha do Combú, em Belém do Pará. (Foto: Gil Silva) |
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Se a COP é o grande palco, o roteiro já está escrito: dinheiro público bem calibrado, mais din-din multilateral com apetite, mais capital privado curioso e, pronto, a bioeconomia deslancha de vez. No fim do dia, é simples: sem verde, não tem grana; sem grana, não tem verde. E, já que estamos a caminho de Belém, fica a dica: se pintar a dúvida entre açaí na tigela ou açaí em pó para escalar valor na origem, peça os dois. A economia vai agradecer aos dois. E o planeta também.  So, see you soon in Belém. Nos vemos em Belém! |
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“A Terra provê o suficiente para satisfazer as necessidades de cada um, mas não a ganância de cada um”. Mahatma Ghandi |
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Virgilio VianaSuperintendente-Geral da Fundação Amazônia Sustentável (FAS), PhD em Biologia Evolutiva pela Universidade de Harvard e ex-secretário de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas (2003-2008). |
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Virgilio Viana, Superintendente-Geral da Fundação Amazônia Sustentável (FAS). (Foto: Divulgação) |
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1) Para promover o desenvolvimento sustentável da Amazônia, a FAS adota como estratégia de atuação três escalas: global, amazônica e local. Você pode dar mais detalhes sobre como a organização atua e que impacto seus projetos provocam? |
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A FAS atua com foco a partir das comunidades e aldeias da Amazônia profunda. Esse é o nosso território principal de atuação. A partir de planos locais elaborados de forma participativa, em conjunto com as comunidades e aldeias, desenvolvemos uma estratégia de captação de recursos e parcerias que é estruturada em programas. Esses programas refletem as prioridades identificadas nesse processo de consulta e co-participação das comunidades e aldeias. A partir disso, desenvolvemos uma tecnologia social de implementação desses diferentes programas que segue uma abordagem sistêmica. Ou seja, trabalhamos com tudo aquilo que é prioritário para as comunidades, a partir do marco conceitual dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Organizações das Nações Unidas (ONU). E as lições aprendidas na implementação desses projetos nos permitem ter incidência em políticas públicas nas esferas municipal, estadual e federal e também compartilhar essas experiências fora do Brasil, em especial nos países da bacia amazônica. |
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2) A COP30 será realizada em Belém. De que forma o Brasil e a Amazônia podem transformar esse protagonismo em liderança real nas negociações e nos compromissos globais do clima? |
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O Brasil tem dado passos importantes no programa de transformação ecológica, conduzido pelo Ministério da Fazenda, e no plano de combate ao desmatamento da Amazônia, do Cerrado e de outros biomas brasileiros. Essa liderança, pelo exemplo, é a mais eficaz. Em relação à Amazônia, acredito que não apenas o que vem sendo implementado pelo governo federal e por alguns governos estaduais, mas também pela sociedade civil, pelas empresas e pela academia — que tem feito pesquisas que apontam caminhos — contribui para que a trajetória da Amazônia seja coerente com uma rota de redução de emissões e de contribuição para o desafio de enfrentar as mudanças climáticas em escala regional. |
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3) Um dos grandes temas que devem permear as discussões da COP30 é o financiamento da transição verde. Que caminhos você enxerga para ampliar o fluxo de capital para a Amazônia, garantindo que esses recursos cheguem às comunidades e projetos de base? |
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Existem muitas oportunidades para ampliar o fluxo de capital para a Amazônia. É fundamental que esses investimentos tenham em mente tanto a valorização da floresta em pé — como uma estratégia econômica de combate ao desmatamento — quanto a contribuição para a redução das desigualdades sociais, uma vez que a Amazônia ostenta os piores índices de desenvolvimento humano do Brasil. Esse fluxo de capital tem hoje um leque crescente de oportunidades, destacando a bioeconomia amazônica baseada na biodiversidade — muitas vezes referida como sócio-biodiversidade — que tem um potencial muito grande de geração de riqueza com agregação de valor. É importante que isso seja feito de uma maneira que contemple o aumento da renda dos produtores — florestais, agrícolas e pesqueiros — que estão na base da cadeia produtiva, e não apenas a agregação de valor nas etapas seguintes. Também é essencial privilegiar a geração de valor na própria região, que muitas vezes exporta matéria-prima in natura e com baixo valor agregado. Portanto, esse fluxo de capital deveria priorizar a agregação de valor local, a valorização do trabalho dos produtores da floresta e a criação de interfaces com os centros de inteligência e conhecimento locais — notadamente as universidades públicas e privadas e as instituições de pesquisa da região. |
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