VC Challenge

Newsletter | Entre caranguejos e vira-latas

A 5ª edição do maior desafio de empreendedorismo, inovação e Venture Capital do Brasil já vai começar! Neste sábado (17), jovens universitários e do ensino médio já irão vivenciar na prática o dia a dia de um investidor de VC na 1ª Etapa da competição.

Após ouvirem palestras de especialistas do mercado sobre grandes tendências de inovação, os participantes escolherão uma startup para investir e justificar suas teses de investimento. Ao longo do VC Challenge, além de mentorias e Happy Hours com profissionais do ramo, os estudantes terão a oportunidade de instigar seu espírito empreendedor e construir um plano de negócios como se fossem os CEOs de suas startups. Para isso, haverá interação direta com fundadores da própria startup e muito mais! Sem mais spoilers por enquanto.

Além do conhecimento e networking, essa edição conta com uma cesta de prêmios incrível, que inclui (i) uma viagem com tudo pago para Lisboa, Portugal, (ii) ingressos para a maior feira de tecnologia e inovação do mundo, a Web Summit, (iii) estágio de férias na KPTL, além de cursos de VC e de educação financeira em geral. No nosso site, você encontra mais informações acerca da competição e de outros prêmios. Corra que as inscrições (100% gratuitas) acabam amanhã às 23h59! Vale lembrar que estudantes de qualquer região do Brasil podem participar do VC Challenge 2022, não perca essa oportunidade única! Nos vemos lá!

Confira o site aqui!
Story of the week

 

Entre caranguejos e vira-latas

Oráculos dão conta de que a economia brasileira irá crescer miseráveis 1,4% ao ano, pelos próximos 3 anos.

Pero qué pasa? Estaríamos condenados ao passo do caranguejo ou diante de um novo episódio do antigo complexo de vira-lata?

O sucesso econômico de uma nação depende basicamente de dois ingredientes. A boa gestão macroeconômica permite que o sistema econômico funcione de maneira minimamente organizada. E hoje em dia, para errar feio em matéria de juros, inflação, câmbio e gastos públicos é preciso esforço e perseverança.

Mas a macroeconomia é como a corda que enforca, mas não arrasta. Ou como diz o Nobel Krugman, produtividade não é tudo, mas no longo prazo é quase tudo.

Aqui estamos sob a doutrina da microeconomia, cujos 7 mandamentos também estão bem estabelecidos após a experiência das 200 economias mundiais nos últimos 200 anos:

  1. Abra a economia ao resto do mundo
  2. Flexibilize o mercado de trabalho
  3. Promova um ambiente competitivo em todos os setores
  4. Privatize
  5. Faça concessões e induza investimentos em infraestrutura
  6. Invista em educação
  7. Incentive a inovação

Conhecer o mapa pouco diz, porém, sobre a velocidade e a distância percorrida. Os economistas enfrentam imensa dificuldade, e uma dose de preguiça, para estimar o impacto das reformas microeconômicas no PIB.

A guerra dos 30 anos

Depois de muito sangue derramado, o País pode estar no limiar da tão almejada estabilidade macroeconômica.

Com o horizonte ainda turvo, é fácil perder de vista as muitas provas de fogo que sempre nos devolveram à UTI mas que endurecem o couro. A história começa pelo controle da inflação no longínquo 1994, passando pela adoção do tripé câmbio flutuante, metas de inflação e Lei de Responsabilidade Fiscal em 1999, a preservação desses pilares por um governo de esquerda em 2002 e mesmo a grata surpresa de que também era possível fazer política anticíclica nos trópicos, em 2008, tudo contado pelo prêmio de risco-Brasil (EMBI).

Depois de um longo período de antirreformas, tivemos mais uma leva de testes relevantes. A implementação do teto de gastos em 2016, a reforma da previdência em 2019, a resiliência da economia ao choque brutal de uma pandemia em 2020-2021 e a independência do Banco Central em 2021.

É difícil vislumbrar novos obstáculos de mesma envergadura à frente. Mas com a 2ª Lei da Termodinâmica ainda em pleno vigor, sempre é possível desfazer o que se fez, com o grande risco dominado pelo insurgente controle fiscal, em especial sobre o que será do tão apedrejado teto de gastos ou do instrumento de controle da dívida que venha a substituí-lo.

Mas há poucas dúvidas de que o Brasil de 2023 está mais blindado aos erros mais grosseiros de pilotagem macroeconômica, graças principalmente à independência do Banco Central, uma conquista de não retorno. A despeito de quem venha a ser o próximo Ministro da Fazenda, parece menos provável que tenhamos um novo período de grandes desacertos como testemunhado entre 2009 e 2015, menos ainda com o beneplácito dos Faria Limers, que ao espírito da época, preferiam curtir a vida adoidado.

A elusiva PTF

Se é difícil medir o impacto de cada reforma microeconômica na produtividade total dos fatores (PTF), mais difícil é estimar o timing desses efeitos. Operando com os motores da destruição criativa, as reformas micro muitas vezes geram impactos negativos no curto prazo, tendo que esperar o período de alta do ciclo para fazerem a diferença no PIB, o que explica o paradoxo de sua popularidade.

Menos difícil é tentar montar algum inventário dessas políticas, o que pode revelar uma perspectiva um pouco menos cansada quanto ao potencial do País nos próximos anos.

Depois de um longo período de fechamento da economia, o País retomou uma agenda pró-abertura a partir de meados de 2016, com destaque para o acordo Mercosul-União Europeia, a redução linear de 20% nas tarifas de importação e diversas medidas de facilitação de comércio.

Talvez já refletindo parte dessa mudança de rumo, após o fluxo de comércio do País com o exterior ficar estagnado por 20 anos em torno de 26% do PIB, em 2021 o comércio com o resto do mundo alcançou 39% do PIB, contra a média de 52% dos países da OCDE.

A flexibilização do mercado de trabalho no País teve um impulso importante em 2017 com a Reforma Trabalhista e outro em 2019 com a flexibilização do saque do FGTS. Embora ainda líder do ranking mundial, as novas ações trabalhistas mostram redução de 41% no País. Mais importante, a taxa de desemprego alcançou o menor patamar desde 2015.
Na promoção de um ambiente de negócios mais competitivo, avanços importantes dos últimos 3 anos foram os novos marcos legais do saneamento, ferrovias, cabotagem e do gás natural, bem como o início do fim do monopólio da Petrobras no refino de derivados.

Programas de concessões e medidas de natureza regulatória também têm melhorado a qualidade da infraestrutura do País, processo que teve início ainda na década de 90 com as telecomunicações, setor que terá um novo impulso inovador com o início do 5G em 2022.

Em resposta ao programa de metas de qualidade de longo prazo imposto pela Aneel, a ocorrência de interrupções no fornecimento de energia elétrica caiu 37% nos últimos 10 anos e, com a privatização de 2017 para cá de 9 das 10 distribuidoras com pior qualidade do serviço, novos avanços deverão ocorrer nos próximos anos.

Entre os modais de transporte, os maiores avanços ocorrem nos aeroportos. Em 2012 o Brasil estava entre os países com pior infraestrutura aeroportuária do mundo, segundo o ranking do Fórum Econômico Mundial (posição 134 de um total com 144 países). Após 10 anos, 59 dos 60 aeroportos da Infraero haviam chegado a mãos privadas (com exceção do aeroporto Santos Dumont), com flagrante salto de qualidade.

Nas ferrovias, as renovações das concessões da Malha Paulista (Rumo), Estrada de Ferro Carajás e Estrada de Ferro Vitória-Minas (Vale) em 2020 e da MRS Logística em 2022 trarão como contrapartida investimentos de R$ 34 bilhões, acrescidos de R$ 14 bilhões esperados com a renovação da Ferrovia Centro-Atlântica em 2023. Além disso, o programa de autorizações para novos trechos ferroviários recém-lançado tem potencial para atrair investimentos adicionais de mesma magnitude.

O total de rodovias concedidas no País, que pouco se expandiu entre 2014 e 2018, voltou a ganhar corpo, acumulando alta de 30% no total de trechos concedidos nos 4 anos seguintes. Enquanto apenas 28% das rodovias públicas são avaliadas como ótimas/boas, nas rodovias concedidas esse índice é de 74%.

Desde a nova Lei do Portos, de 2013, foram celebrados mais de 130 novos contratos de adesão, atraindo investimentos da ordem de R$ 50 bilhões. Como um de seus efeitos mais importantes, finalmente um país em que mais de 80% da população reside a menos de 200 km da costa, mas que via o transporte aquaviário responder por apenas 13% da sua matriz de transporte, está descobrindo a navegação de cabotagem. O modal, que até 2019 evoluiu em ritmo lento, mostrou crescimento de 20% nos dois últimos anos e deve seguir ganhando tração com a maior oferta de navios induzida pelo novo marco legal da BR do Mar, instituído no início de 2022.

O setor de infraestrutura que permanece em situação mais precária é sem dúvida o de saneamento, mas cuja realidade começa a mudar, após a aprovação do novo marco legal do setor em 2020 e que já motivou a atração de R$ 46 bilhões em investimentos apenas com as primeiras concessões realizadas.

Aqui persiste um justificado temor de que a pequenez política possa atravancar os novos leilões, ainda que urgência não falte. No Brasil morrem cerca de 7 mil crianças por ano por falta de saneamento básico. Em 2019, o País ainda tinha 15% dos domicílios sem acesso a água encanada, 34% sem rede de esgoto e 58% sem tratamento de esgoto.

Com uma grande distância até a fronteira tecnológica, o País poderia garantir um longo período de crescimento mesmo sem uma política virtuosa de inovação.

Mas aqui também há novidades relevantes que abrem oportunidades para maiores índices de produtividade nos próximos anos, com destaque para o Novo Marco Legal da Ciência, Tecnologia e Inovação, de 2016, que incentiva uma maior aproximação entre as universidades públicas e as empresas, como também o reposicionamento do BNDES a favor de um foco prioritário no incentivo à inovação e desenvolvimento de novos mercados.

As maiores novidades nesse campo, porém, estão no processo de transformação digital do setor público.

Em levantamento de 2022, o Banco Mundial colocou o Brasil na  colocação no ranking de maturidade digital de serviços públicos, à frente do Japão, Alemanha e Estados Unidos.

O número de serviços públicos federais oferecidos por meio de portais eletrônicos passou de pouco mais de 500 em 2017 para mais de 4 mil em 2022. Segundo a Secretaria de Governo Digital, a transformação digital gera uma economia de 93% na prestação do serviço.

No caso dos estados e, principalmente municípios, o processo de transformação digital deve ganhar tração com o apoio de uma onda de novas GovTechs, que deverão ser impulsionadas pelo Novo Marco Legal das Startups, a Nova Lei de Governo Digital e a Nova Lei de Licitações, aprovadas em 2021.

Sob o risco de saltar do complexo de vira-latas para a síndrome de Poliana, a questão aqui é menos de defender que estamos a dois passos do paraíso e mais de que há razões plausíveis para termos um crescimento um pouco melhor do que a merreca de 1,4% ao ano. E não custa lembrar que economistas são bons de errar projeções. Aqui e lá fora.

E para terminar em um tom mais lúgubre, dos principais determinantes do crescimento de longo prazo, não há quase nada a comemorar na educação. Se o ritmo de avanços já era quase imperceptível, os próximos levantamentos do IDEB e PISA devem mostrar que pandemia nos fez voltar anos para trás.

“Macroeconomic forecasts are great! Who doesn’t love predictions that always need to be updated?”