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Newsletter | A evolução do container

Xiang-Yu foi um general rebelde da China do século III a.C.. Ele fazia parte da aristocracia da província de Chu, incorporada pela dinastia Qin para formar o território que hoje conhecemos como China. Bem educado e poeta, Xiang-Yu era considerado um espetacular estrategista militar. Em 210 a.C., ele conduzia pelo Rio Yang-Tse as tropas rebeldes para derrubar Qin. Após uma noite de descanso na beira do Rio, as tropas acordaram com os navios em chama. Correram pra se defender, até descobrir que o próprio Xiang-Yu tinha ordenado a destruição das embarcações. E ainda tinha ordenado também a destruição das panelas! Explicação? Sem navios para eventual fuga, e sem panelas para se estabelecerem no local, a única alternativa possível era ganhar as batalhas seguintes, com velocidade. E venceram 9 batalhas consecutivas, que culminaram no fim da dinastia Qin.

A jornada empreendedora é hiper desafiante. Os riscos econômicos, sociais, psicológicos, são gigantescos. Para encarar os obstáculos da jornada, os Planos A, B, C, D… do empreendedor precisam ser o sucesso da empreitada. E você? Quais navios precisam ser queimados?

 

Story of the week

Alguns chamam de “o produto perfeito”, outros apontam a falta de inovação desde sua concepção, mas o fato é provavelmente todos os nossos parentes, de todas as gerações, conhecem e já usaram uma caneta BIC. Desde a década de 1950, o produto é essencialmente o mesmo. É um ícone de design industrial, incluído na coleção permanente do Museum of Modern Art (MOMA), em Nova York.

Até aqueles que são estritamente contra o uso do bom e velho papel e caneta não podem deixar de reconhecer que a BIC revolucionou seu mercado. Armazenar e transportar tinta para sua caneta tinteiro passaram a ser memórias cada vez mais distantes. Muitos desses produtos que são exatamente iguais há mais de 50 anos são chamados de “produtos perfeitos”. Na newsletter de hoje vamos abordar um deles em específico: o container.

Enquanto a ideia de mover bens pelos mares data de muitos séculos, fazer isso em caixas de metais é algo relativamente novo. A dificuldade anterior de carregar e descarregar barcos cheios de barris, sacos e caixas de madeira era tão grande, que era comum os barcos passarem mais tempo no porto que navegando. Tudo isso mudou, em 1956, quando Malcom McLean arquitetou a primeira viagem de contêineres a bordo de um navio militar convertido, o Ideal X, que transportou 58 contêineres de Nova Jersey ao Texas.

Mas como toda inovação, não pense que a mudança do status quo foi fácil. Havia poderosos sindicatos dos portos, que resistiam à ideia porque a maioria dos estivadores perderia o emprego. As autoridades também não estavam fazendo questão de se mexer. E as companhias de navegação não chegavam a um acordo sobre regras comuns para o tamanho dos containers. Foi aí que uma tacada de McLean mudou tudo. Ele vendeu a ideia do transporte com contêineres para os militares, que viram na proposta de McLean a solução para seus problemas de enviar equipamento militar ao Vietnã. Além disso, McLean se deu conta de que, ao voltar do Vietnã, seus navios poderiam trazer contêineres cheios de carga do Japão. Em 1968, o Japão lançou um dos primeiros navios modernos especialmente desenhados para containers, o Hakone Maru, com capacidade de mais de 700 containers. Era o começo da rota transpacífica moderna.

Desde então, para se ter uma referência da eficiência do setor, um container leva um Ipad de Hong Kong para a Alemanha a um custo de 5 centavos de dólar por unidade. Em outros termos, imagine o seguinte: o preço típico pré-pandemia de transportar um container com mais de 20 toneladas de carga da Ásia para a Europa era quase o mesmo de uma passagem econômica para fazer a mesma viagem.

Mas será que o container é mesmo um “produto perfeito”? Será que já chegamos ao limite da inovação nesse produto? Alguns empreendedores acreditam que não. Seguindo na nossa analogia, diriam que só saímos da pena para a caneta tinteiro.

Atualmente, cerca de 90% das mercadorias do mundo são transportadas por mar, com 60% disso sendo feito em containers. Um dos grandes problemas que o setor enfrenta é do ponto de vista de sustentabilidade. O setor de transporte é um dos que mais contribui para emissões de gases com efeito estufa, à nível global, representando mais de 20% das emissões em 2019. Dessa porcentagem, o transporte marítimo representa cerca de 11% das emissões.

Mas os containers não possuem motores, a culpa é do barco! Por um lado, sim, e em futuras newsletters podemos falar das inovações nessa área. Por outro lado, estima-se que 20% dos containers que estão navegando no mar estão vazios. E esse número sobe para 40% quando se fala dos containers em terra. Ou seja, é uma ineficiência enorme.

Pensando nisso que startups como a 4Fold e Staxxon estão trabalhando para desenvolver containers dobráveis, que ocupam de 20% a 25% do espaço de um container tradicional quando dobrados. Com isso, um caminhão ou vagão de trem pode levar 4 containers ao invés de apenas 1. Além dos ganhos ambientais (estima-se emissão de até 37% menos CO2), os benefícios logísticos e de redução de custos são evidentes, o que é animador para a adoção em larga escala dessa inovação.

Seria esse novo design a verdadeira BIC dos containers?

 

 “A good product is the one that makes you think why the hell hasn’t anyone done this before.”