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Newsletter | A Netflix deveria comprar o Spotify?

A Kodak se tornou top of mind quando se fala de uma empresa que não conseguiu se readequar as mudanças tecnológicas. Mas no caso do mercado de Câmeras Digitais, a criação de smartphones, em especial o Iphone, foi completamente disruptivo para o mercado todo. Atualmente, as 4 “gigantes” do setor (Canon, Nikon, Fuji, Sony) seguem batalhando entre as migalhas que sobraram, de menos de 10 milhões de câmeras vendidas anualmente. Dentre elas, a melhor posicionada é a Sony, que permanece como uma fornecedora de sensores das câmeras, inclusive para a própria Apple. O que uma vez era uma disputa e motivo de vangloria no churrasco, de quem tinha a câmera com o mais alto número de megapixels para tirar a foto da turma, vai se tornar cada vez mais um mercado de nicho, de entusiastas e profissionais buscando uma altíssima qualidade de players como Leica e Hasselblad.

KPTL Bohr Arbitrage Crypto Fund

 

Recentemente, anunciamos que depois de 15 anos investindo em tecnologia, começaríamos a inverter a equação e utilizar tecnologia para investir. O gráfico acima mostra o resultado que o nosso fundo quantitativo offshore vem tendo, com um retorno líquido acima de 50% em menos de 1 ano.

O fundo offshore é o Bohr Arbitrage Crypto Fund L.P. que investe em criptomoedas, arbitrando derivativos das 90 moedas mais líquidas nas maiores bolsas de cripto do mundo. Esse é um mercado dominado pelo varejo, de alto volume e volatilidade e que opera 24 horas sem parar. A beleza do derivativo é utilizar estratégias de proteção ou de arbitragem e se manter independente das moedas em si.

O feeder do fundo offshore foi lançado no Brasil (Bohr Arbitrage Cripto Fundo de Investimento Multimercado – Investimento no Exterior), já está disponível nas plataformas Toro e Necton e estará em outras em breve.

Story of the Week

Scott Galloway é um empreendedor, escritor e professor da NYU famoso mundialmente por suas análises em cima das Big Techs. No ano passado ele publicou um livro chamado Post Corona, explorando um pouco dos efeitos da pandemia, principalmente em cima das Big Tech. Vamos ver algumas pílulas interessantes no livro.

Pandemia

Ele coloca a pandemia como um acelerador de tendências já estabelecidas. O share do e-commerce, por exemplo, vinha crescendo 1% por ano nos EUA. Na pandemia, ele cresceu 10% em 8 semanas.

Nos cinco primeiros meses da pandemia, enquanto o mundo vivia o caos e o mistério, as nove maiores empresas Tech ganharam US$1,9 trilhões de valor de mercado. Por quê? São empresas com bilhões em caixa, produtos que vão se beneficiar dessa aceleração e estão vendo seus maiores concorrentes entrando em falência. Companhias com capital de sobra e ações valorizadas vão estar muito bem posicionadas para um forte movimento de consolidação de mercado. E isso não é verdade apenas para as grandes. As startups brasileiras que conseguirem navegar bem nesse cenário de crise também podem ter as mesmas ambições. A liquidez atual dos mercados tem total capacidade de dar gasolina para esse tipo de movimento via investimentos de Venture Capital em teses consolidadoras.

Amazon

Analisando a estratégia da empresa nos últimos anos, o que o Scott define como o “gangster move” da Amazon é tornar suas maiores linhas de custo em linhas de receita. A Amazon é uma loja online, portanto, precisa de um ótimo back-end, o que significa um robusto data center. Data centers são essenciais para os negócios da Amazon, mas administrá-los não é seu core business. Todos os gurus de negócio costumam ensinar as empresas a focar no seu core e tercerizar o resto. A Amazon inverte isso. Ela tira proveito de sua enorme escala e sua capacidade de investir capital essencialmente ilimitado. Com isso, ela construiu a maior competência no gerenciamento de data centers do planeta. Passo 2, ela começou a disponibilizar essa competência como um serviço, portanto, criando a AWS, que se tornou de longe o maior provedor de serviços de nuvem do mundo.

A Amazon fez a mesma coisa com outra de suas principais linhas de custos: a logística. Ao criar uma extensa rede de centros de distribuição e agora até frota de aviões, ela se tornou capaz de entregar milhões de produtos em até 48 horas. Passo 2, ela começa a oferecer esse serviço a quem vende via o seu marketplace, criando uma nova linha de receita.

Chegamos em 2020. Nem nas suas maiores alucinações os acionistas da Amazon poderiam imaginar um cenário em que o governo fecha toda a competição física, restringe todos dentro de casa e envia trilhões de dólares em dinheiro para as pessoas via estímulos.

E o futuro? Para uma empresa desse porte, são poucos os mercados grandes o bastante para fazer uma diferença no todo. O mais óbvio para a Amazon é o setor de saúde. Ela já tem um enorme número de dados sobre os seus clientes, mais do que qualquer empresa de seguros, por exemplo. Pode ser que em breve você peça para a sua Alexa marcar uma consulta com um dermatologista da Amazon, que já possui acesso total aos seus dados de saúde. Por meio da pulsera Halo, já lançada pela Amazon, ele também consegue medir alguns indicadores em tempo real. Após a consulta, uma prescrição é enviada diretamente à PillPack, comprada pela Amazon em 2018. O remédio é entregue em algumas horas via a logística da Amazon. Quanto tempo até ela lançar o seu próprio plano de saúde? Lembra da parte de tornar linhas de custos em receita? 18 meses atrás a Amazon criou a Amazon Care para oferecer esse tipo de serviço aos seus funcionários e ontem ela anunciou que vai começar a vender isso para outras empresas também. Ou seja, muito em breve.

Apple

A Apple levou 42 anos para chegar a US$1 Trilhão em valor, mas apenas 20 semanas para chegar nos US$ 2 Trilhões. Ela é dona do produto mais rentável já feito, o iPhone. Suas lojas são o metro quadrado que mais fatura nos EUA inteiro. Quando ela decidiu entrar no mercado de relógios, ela se tornou a maior fabricante do mundo, 4x maior que a segunda colocada, em apenas 5 anos. A Apple produz mais relógios que todas as marcas suíças combinadas. Agora ela passa por uma transformação cada vez mais intensa rumo à receita recorrente (iCloud, Apple Music, Apple TV+ etc), que já representa cerca de 1/4 de suas receitas. O próprio iPhone agora é oferecido via Subscription.

O Futuro? Como a Amazon, são poucos mercados grandes o bastante para a Apple e ela deveria entrar também em saúde. Como? Comprando a Peloton, a Apple do Fitness. A Peloton vale o seu market cap de US$30 bilhões? Como uma empresa independente é difícil justificar. Mas será que duas a quatro horas adicionais de atenção por semana das pessoas mais influentes do planeta valem isso para a Apple? Galloway acha que sim, em um piscar de olhos. Será que veremos um subscription Apple englobando iphone, iCloud, Apple Music, Apple TV+, carro elétrico, Peloton subscription e um plano de saúde?

Twitter

Antes costumávamos trocar tempo por dinheiro. Hoje trocamos privacidade por dinheiro. Privacidade é o grande dilema das redes sociais e o Twitter seria a melhor posicionada para se despontar como a rede social que respeita sua privacidade. Segundo Galloway, ela deveria abandonar por completo o seu não muito eficiente modelo de anúncios para partir por completo para um modelo de subscription. Quando eles anunciaram que estavam explorando esse tema, o mercado viu como positivo e suas ações subiram. E Scott já deu até o caminho das pedras. Eles deveriam isentar usuários com menos de 2 mil seguidores e focar sua cobrança nos maiores. Se a @kyliejenner consegue cobrar 430 mil dólares por um post pago, ela deveria poder pagar 10 mil dólares por mês para ter acesso ao Twitter.

Netflix

Para dar o próximo passo no seu crescimento, Galloway acha que a Netflix deveria comprar a Spotify e a Sonos (que produz smartspeakers), de forma que passaria a dominar por completo a indústria de música e vídeo, além da presença física nas residências para conseguir competir contra a Siri e a Alexa.

Setor de Educação

Por décadas nada mudou. Sistemas de vídeo conferência nunca foram aceitos e os professores continuavam firmes junto ao quadro negro, Power Point e estudantes anotando em cadernos. Mas mesmo assim, os preços das universidades norte-americanas cresceram 1,400% nos últimos 40 anos. Setores que aumentaram os preços mais rápido do que a inflação, sem aumento equivalente da inovação, são os setores em que a disrupção é mais provável. É o que devemos ver no setor de educação, acelerado pela pandemia. Apenas nos últimos dias já tivemos anúncios de IPOs de Coursera e até Ubook. Mas a disrupção aqui está só começando.