Beautiful shot of a wave taking shape under the clear blue sky captured in Lombok, Indonesia

Newsletter | Kelly Slater e sua Empresa Tech

Estimasse que metade de todas as ligações telefonicas nos EUA são pessoas ou robôs tentando aplicar golpes. Segundo a Federal Trade Commission, norte-americanos perdem bilhões de dólares todo ano vítimas desses golpes. Em 2014, aos seus 90 anos, William Webster recebeu um desses telefonemas. O que o golpista não sabia é que o William era a pior pessoa para ele ter ligado. O William foi a única pessoa na história dos EUA a ter liderado tanto o FBI como a CIA. O golpista foi preso e sentenciado a 6 anos de prisão. O William estava lá no tribunal assistindo.

Story of the Week

 

 

No filme The Endless Summer, de 1966, dois surfistas californianos viajam o mundo procurando a onda perfeita. No filme eles a encontram, descrevendo que aquilo parecia que era feito por uma máquina. E talvez o motivo do filme ter se tornado um clássico é o fato de que essa busca é intrínceca a esse esporte. Todo surfista está em uma constante busca pela onda perfeita, levando-os para certos países, praias e em determinadas épocas.

Uma dessas pessoas chama-se Kelly Slater, um surfista com uma carreira tão consistente que entre os seus 11 títulos, ele foi o mais novo e o mais velho a se consagrar melhor do mundo. Kelly é considerado por muitos o maior surfista de todos os tempos, sua influência não só inspirou diversas gerações como também o tamanho das pranchas, onde Kelly puxou os limites de quão pequenas elas podem ser. Para auxiliar na sua busca pela onda perfeita, Kelly decidiu ir além. E se, como descrito pelo filme The Endless Summer, a onda perfeita seria apenas aquela feita por uma máquina?

Com isso na cabeça, em 2006, Kelly somou o seu conhecimento empírico com o que havia de melhor em conhecimento técnico, se juntando ao pesquisador Adam Finchum, especializado em dinâmica de fluidos pela University of Southern California. Fazer onda não é difícil, piscinas de ondas são abundantes em cruzeiros e parques aquáticos, mas quando se eleva o nível em busca da perfeição, o jogo é outro. A não-linearidade está em toda parte. Para modelar o enorme número de variáveis, a matemática foi extremamente complexa e precisaram de um supercomputador. Esse era um terreno tão inexplorado que os únicos artigos cientificos que os ajudaram datam de 1870. Mas eventualmente conseguiram! Uma onda que apenas se propaga e não perde energia.

A um custo total de 30 milhões de dólares, esse projeto saiu do papel e foi instalado em uma área de 700 x 150 metros, onde criou-se o Surf Ranch. Na primeira vez que Kelly surfou essa onda, ele caiu. Segundo o próprio, esse conceito de onda perfeita ressalta as habilidades dos surfistas, permitindo os melhores a se destacar, não afetados por um momento de ondas piores ou outras variáveis. E de olho nisso que a liga mundial de surf (WSL) comprou uma participação nesse empreendimento.

Durante as principais competições de surf, há muito dinheiro que fica na mesa devido a imprevisibilidade de condições do mar. Agora imagine realizá-las em um ambiente controlado, com ondas idênticas e timing perfeito para intervalos comerciais. Já inclusive fizeram um torneio lá, ganho pelo brasileiro Gabriel Medina. Imagina o potencial que elas tem para o treinamento dos surfistas profissionais. Imagina também a possibilidade de contruir essas piscinas em resorts para atrair os muitos surfistas que hoje viajam o mundo em busca dessas ondas perfeitas.

Agora Kelly está conflitado. Ele se pergunta se criou um monstro. Será que veremos a tecnologia alterar de vez esse esporte? Será que os surfistas das próximas gerações vão deixar de lado o hábito de surfar no mar? Muitos defendem que existe uma beleza no incerto, em saber se adaptar, enfrentar o inesperado.

O surf talvez seja mais do que só a onda. E talvez a solução para essa eterna busca seja menos importante que a jornada em si.

 

End of the year

 

Chegamos ao final de 2020. Um ano passível de ser descrito apenas com o uso de um liquidificador de adjetivos fortes. Um membro do nosso time estava na Europa quando tudo começou a explodir. Voltando para o Brasil e vendo o aeroporto de Guarulhos lotado de voos vindo da China, Itália e Alemanha (epicentros da época), o destino para onde as coisas estavam indo era óbvio. Se fossemos um fundo que investe em bolsa, talvez teríamos zerado muitas das nossas posições. Mas como um VC não temos essa opção. Temos que nos especializar tanto em levar foguetes para o espaço, assim como pousar aviões sem combustível, com visibilidade zero e buracos de tiros nas asas.

De um lado, a teoria da diversificação de portfólio como um mitigador de risco se provou na prática. Do outro, vivemos décadas em meses. Tivemos de tudo. De empresas com receitas zeradas da noite para o dia até uma sendo responsável pela fabricação de cerca de metade de todos os ventiladores pulmonares comprados pelo governo federal para enfrentar a pandemia. Indo bem ou mal, vimos em todas um acelerado processo darwiniano. Todas perceberam que podem fazer mais com menos. Todas se tornaram mais eficientes. Todas se tornaram mais criativas. Todos os empreendedores encerram o ano se formando em um MBA da vida que supera qualquer Ivy League.

Os hábitos também mudaram. Algumas expressões ficaram comuns, do tipo “Você está me ouvindo?” e “Vocês estão vendo a minha tela?” Mas se tem uma coisa boa que pode sair desse ano é ver o brasileiro pedindo desculpas por entrar 2 minutos atrasado no call. Aqui na KPTL, também fizemos o que antes seria impensável: investimentos sem ter nenhum contato físico com o empreendedor.

Em um TED Talks no ano passado, o sobrevivente do holocausto Eddie Jaku e autoproclamado “homem mais feliz da terra” terminou com uma frase que ficou na minha cabeça. “Por favor, não ande na minha frente, porque eu talvez não consiga seguir. Por favor, não ande atrás de mim, porque eu talvez não consiga liderar. Ande ao meu lado, como amigos.” Penso que isso descreve o ano da KPTL, andando lado a lado com nossos empreendedores. Eles são os nossos amigos, parceiros e sócios, que nos inspiram todos os dias. E estamos ansiosos por brindar pessoalmente um merecido chopp não só com eles, mas com todos os nossos amigos.

Um bom final de ano a todos!