Newsletter | O melhor investidor é simplesmente o mais sortudo?

Em 1986, Andre Agassi chegou no The Masters (hoje o ATP Finals) como o #6 do ranking mundial dos tenistas. Mas ele não foi bem e se despediu do torneio após perder uma partida para o #2 do ranking, Boris Becker. Aquela era a terceira partida entre os dois e a terceira vez que Agassi perdia. Um dos pontos fortes de Becker era o seu saque, que atingia velocidades de 210 km/h, algo raro na época.

Após assistir muitos replays dos jogos de Becker, Agassi notou que Becker tinha um toque. Toda vez antes de sacar, ele colocava a língua para fora na direção que o saque iria. Para não desconfiar seu oponente, durante os próximos duelos entre os dois, Agassi utilizava essa informação apenas nos pontos mais relevantes para a partida. Das 11 partidas que jogaram após isso, Agassi ganhou 10 delas.

Foi somente após se aposentarem, durante um chopp em uma Oktoberfest, que Agassi contou a Becker que ele tinha esse toque. Becker quase caiu da cadeira. Disse para Agassi: “Depois das nossas partidas, eu sempre chegava em casa e dizia para minha mulher que parecia que você conseguia ler a minha mente.”

 

News of the week

KPTL possui o melhor fundo quant crypto do mundo!

A KPTL deu um passo importante 2 anos atrás lançando o primeiro Fundo Quant em Crypto do Brasil e um dos primeiros do mundo. Atualmente, temos um time de primeira linha dedicado ao tema e  mais de R$500MM investidos nessa tese. Apesar da volatilidade em crypto, o fundo tem sido muito consistente, terminando todos os últimos 19 meses com retornos positivos. Em 2021, fechamos o ano com retornos de +60% em dólar.

Nessa semana, tivemos mais um reconhecimento importante: fomos selecionados como melhor fundo quant em crypto do mundo pela With Intelligence (antiga HFM). Esse é um dos mais respeitados prêmios do setor de Hedge Funds, um grande reconhecimento de uma história que está só começando!

 

Story of the week

Imponderável de Almeida

A mítica figura do oráculo das finanças é real ou o que há são apenas bons storytellings?

Uma série de levantamentos e estudos mostram que é raro, muito raro, um gestor de fundos conseguir superar a média do mercado de modo sistemático.

Análise feita pela The Economist mostrou que entre os fundos de ações do mercado americano de melhor retorno (25% melhores) entre Abr/12 e Mar/13, somente 25% se mantiveram no pelotão de elite nos 12 meses seguintes (Abr/13 a Mar/14), proporção que caiu para 4% e 0,5% nos períodos subsequentes. Caso a seleção dos melhores gestores ocorresse por sorteio, a probabilidade de se manter no topo seria maior.

Dos 1.268 fundos de ações ativos no mercado brasileiro nos últimos 5 anos, 540 obtiveram retorno acima do índice Bovespa em 2017. Desses, apenas 55% (299 fundos) mantiveram desempenho acima da média em 2018, número que caiu para 26% (142 fundos) em 2019, 15% (82 fundos) em 2020 e 4% (23 fundos) em 2021. Consistência também não muito diferente de girar a roleta.

A resposta imediata é que a regra do jogo nunca foi acertar sempre e sim garantir a performance no acumulado do tempo. Mas isso torna difícil identificar de quem é o mérito, do gestor ou do Mr. Randon.

Mesmo concedendo o direito da dúvida, entre os fundos que ficaram no primeiro quartil de performance entre Abr/07 e Mar/12 no mercado americano, somente 22% se mantiveram no pelotão de elite nos cinco anos seguintes, proporção inferior ao acaso e, esperem, também da proporção de fundos que desabaram para o quartil dos desvalidos (28%).

Por aqui, dos 240 fundos que bateram o mercado em 4 dos últimos 5 anos (19% do total), 197 eram de casas que possuíam outros fundos com performance bem aquém dos referenciais.

A pergunta não é quais são os 43 intrépidos gestores (3% do total) que seguem vencendo o jogo bruto, mas sim se não representam apenas a cauda do acaso no aguardo dos próximos rounds para sucumbir.

E o que vem a ser track record?

Essa quase impossibilidade de bater o mercado foi formalizada já em 1974 pelo economista e Prêmio Nobel Paul Samuelson e não é tão difícil de ser compreendida.

Todo investimento é sempre, em todo o tempo e lugar, uma aposta sobre o futuro. Jogadores que conhecem mais do mercado e do comportamento dos outros jogadores têm maiores chances de ganhar. Mas esses diferenciais são limitados, não apenas porque os preços já refletem a essência do conjunto das informações disponíveis, mas principalmente porque a dinâmica econômica é um fenômeno complexo, com incontáveis variáveis que a afetam, cada uma com uma distribuição de probabilidade que os investidores apenas gostam de alimentar a ilusão de que podem estimar.

Trinta anos após o trabalho do Nobel, os investidores começaram a se convencer da quase impossibilidade de sobreviver às repetidas incursões ao moedor de carne e uma parcela cada vez maior do mercado passou a se satisfazer em apenas seguir a média. Os fundos passivos (que replicam algum índice de mercado, como o S&P 500, p. ex.), que em 2003 respondiam por menos de 10% do total de ativos, viram essa proporção crescer continuamente e no final de final de 2021 já respondiam por 40% da indústria mundial de fundos – modalidade que não está imune às próprias incongruências.

Que facciamo?

Philip Tetlock oferece dicas úteis em seu Superforecasting: The Art and Science of Prediction. Em 2011, o professor de psicologia e marketing de Wharton lançou o Good Judment Project, com o apoio da IARPA (uma agência de inteligência americana), onde coletou previsões de milhares de pessoas, incluindo especialistas de diferentes campos e formações. Um número muito limitado de participantes foi identificado como SuperPrevisores, que Tetlock usou para investigar o perfil, habilidades e processos de análise que favoreciam uma maior acuracidade das previsões. As conclusões vêm em diferentes sabores.

Sobre o mercado de previsões…

  • Os profissionais da previsão em geral não são bons em seu ofício;
  • A reputação dos experts não está relacionada ao histórico de acertos, mas sim à capacidade de persuasão (conhece alguém assim?);
  • Previsões de grupos desempenham melhor que previsões de heads solitários; e quanto mais heterogêneo o grupo, melhor (atenção para o excesso de camisas brancas com iniciais no bolso ou de coletes inflados).

…e sobre os SuperPrevisores:

  • Alcançam performance 30% melhor que a média dos especialistas e (pasmem) de modo consistente no tempo;
  • São mais inteligentes que a média, mas longe de serem gênios e muitos não são experts no tema;
  • Não se baseiam em complexos modelos matemáticos e estatísticos;
  • Revisam as suas previsões com mais frequência que a média dos especialistas e apresentam um padrão recorrente de inquietude com relação ao resultado do próprio trabalho;
  • Liderança e capacidade de previsão aparecem como habilidades conflitantes (essa é boa!). Enquanto os primeiros são autoconfiantes e incisivos, os últimos são humildes e titubiantes.

Embora essas descobertas tenham vindo à tona em 2015, parece haver um HiperPrevisor em pleno vigor físico há 60 anos.

O IFC (International Finance Corporation), instituição coligada ao Banco Mundial e a mais tradicional instituição de fomento ao venture capital de impacto do mundo, vem acumulando, em seus projetos cobrindo mais de 130 nações em desenvolvimento, um retorno do capital 15% superior ao S&P 500, batendo os yankees em 5 das últimas 6 décadas (wow!).

E será que sobra alguma dica para as grandes casas de investimento que por dever de ofício precisam seguir nesse jogo bruto?

Uma estratégia para se apropriar da sabedoria das multidões e evitar o pensamento de rebanho seria montar diversas pequenas células totalmente estanques, com formação variada e lugar de fala e promover rankings de desempenho entre esses grupos.

Mas vai que o Squad dos Estags lidere o ranking e partam com um naco da carteira.

Melhor não.

 

“It’s tough to make predictions, especially about the future.”

Yogi Berra, ex-jogador de baseball