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Newsletter| Por que a inovação acontece em clusters de tempo?

Durante séculos, o Asian Arowana era só mais um dos peixes que nadavam livremente nos rios do sudeste asiático. Mas em 1975, com as suas quantidades diminuindo, ele foi declarado como uma espécie em extinção. O ato, que tinha o intuito de eliminar qualquer tipo de caça e comercialização, teve o efeito oposto, tornando o peixe um enorme objetivo de desejo. Magnatas chineses, membros da Yakuza no Japão e colecionadores europeus, todos criaram uma obsessão em ter um peixe desse.

E assim criou-se um mercado ilegal que movimenta US$ 200 milhões por ano no mundo, com cada peixe sendo vendido por uma média de US$3.000, mas algumas variantes mais raras podendo chegar a 300 mil dólares. E o fascínio gerado criou até um mercado de tratamentos estéticos para esse tipo de peixe, para deixá-lo o mais bonito possível. Com isso, a espécie deixou de existir na natureza e sua criação ficou limitada ao cativeiro em poucos lugares autorizados. Essas fazendas se tornaram tão lucrativas que algumas são até listadas em bolsa. Fishy Business!

Economic Insight

by Adriano Pitoli

De onde vem?

Por que mais da metade dos inventores dos EUA em três áreas de alta tecnologia – Biologia e Química, Ciência da computação e Semicondutores – estão concentrados em apenas 10 clusters urbanos? Por que essa concentração tem se intensificado ao longo do tempo, apesar do avanço das telecomunicações?

 

Por que o prêmio de melhor do mundo no futebol ficou nas mãos de apenas dois atletas em 11 das últimas 13 edições, que juntos também levaram 11 vezes a segunda posição? Feito sem paralelo na história, salvo o Rei. Entende?

Por que os dois maiores bancos privados do País nasceram com apenas dois anos de diferença, há mais de 70 anos?

Por que metade das 500 melhores músicas de todos os tempos (segundo a revista Rolling Stones de 2004, data venia) foram lançadas em um intervalo de apenas 10 anos, há 50 anos? Por que o número de integrantes da lista decai continuamente desde então? Como mostra o gráfico abaixo.

Por que um colaborador de terceiro escalão do departamento de patentes de Berna publicou 5 trabalhos revolucionários, com contribuições fundamentais para a teoria atômica, a física quântica e a teoria da relatividade no miraculoso 1905? Por que 240 anos antes, um recém formado de Cambridge criado pela avó e sem histórico de dedicação ao curso já havia tido o seu ano miraculoso, entregando o teorema fundamental do cálculo, a lei da gravitação universal e a refração da luz enquanto se protegia da pandemia?

Por que 14 dos 20 maiores clubes do País (com mais pontos acumulados no brasileiro desde 2003) surgiram em um intervalo de apenas 16 anos, há mais de 100 anos, e o mais novo – mas não o mais bem pontuado – já é um senhor de seus 77 anos?

Por que os três maiores compositores de todos os tempos nasceram separados por uma distância não superior a 550 km e os últimos dois separados por apenas 14 anos, há mais de 250 anos?

Por que O Homem Vitruviano, A Última Ceia e La Gioconda foram criadas por um mesmo florentino, em apenas 16 de seus 67 anos? Por que ao mesmo tempo outro toscano, 23 mais novo e mais indócil, criava Pietá, David e o Teto da Capela Sistina em apenas 12 dos seus 88 anos? Por que nos 500 anos seguintes nenhuma obra fascinou mais a humanidade?

Insights são momentos de epifania, não escaláveis nem dedutíveis. Mas raramente surgem no vácuo, não costumam dispensar o trabalho duro, nem privam o mensageiro de elevadas taxas de insucesso e parecem encontrar a catarse num caldeirão de influências e suprema rivalidade. Passado o tsunami, parece não haver muito mais a fazer.

Bach produziu mais de 1.100 composições. Mozart mais de 650, começando aos 5 anos e só chegou em A Flauta Mágica e Réquiem às vésperas da morte, aos 35. Beethoven, instigado por todos, sobretudo o pai para superar o anterior, produziu algo como 200 composições, mas a 9ª também só chegou perto do final, aos 53 anos, já completamente surdo.

Da Vinci começou como aprendiz aos 16 em um ateliê onde já havia Botticelli. Só chegou ao Homem Vitruviano 22 anos depois e A Última Ceia em mais 8, com os 4 últimos trabalhando na obra, após ter preenchido boa parte das 13 mil páginas de seu caderno de atividades com notas e desenhos de matemática, ciências, anatomia, engenharia, pintura, escultura e mais. Pietá veio no ano seguinte e 5 depois, David. Fofocas da época dão conta que Leonardo foi provocado em público a fazer melhor. Mona Lisa chega 2 anos depois. Mais 6, Capela Sistina, não sem 4 massacrantes anos de trabalho.

Enrico Moretti, da Universidade da California, apurou que os maiores clusters de inovação não apenas atraem um grande número de talentos, mas também aumentam significativamente a inventividade dos que chegam, quando se mede a evolução do número de patentes.

Pobre Bruxo, apavorou o mundo em 2004 e 2005, mas logo sucumbiu à falta de um rival.