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Questão de vida ou… vida?

A final da Copa do Mundo está chegando, e nestas semanas, além de futebol, ficamos com algumas modernas imagens do Oriente Médio: arranha-céus espelhados, praias artificiais em formatos artísticos, xeiques árabes com suas túnicas, jatos, etc. Esta pujança é recente, e derivada diretamente do petróleo. Nem sempre foi assim.

O petróleo (“óleo de pedra”) já era conhecido há milhares de anos, mas era usado apenas como lubrificante, ou para manter aceso o fogo na ponta das flechas, e outras coisas triviais. A partir do advento do motor a combustão, no final do século XIX, é que o petróleo começou a ser algo economicamente relevante e alvo de cobiça, guerras e empreendedorismo.

Hoje queremos contar a história de um empreendedor: William Knox D’Arcy. Após ganhar dinheiro na exploração mineral na Austrália e Nova Zelândia, o inglês D’Arcy decidiu se aventurar no Oriente Médio. Ousou e comprou de um Xá persa, em 1901, uma concessão com direito de explorar, por 60 anos, qualquer gota de petróleo encontrada em uma região de 1,2 milhões de km² (área somada do estados de MT e MS). O preço? £20 mil (o equivalente aproximado a R$15 milhões atuais). Em troca, o Estado ficaria com um percentual dos lucros obtidos.

William Knox D’Arcy e sua segunda esposa Nina Boucicault, em Stanmore Hall

Não existia histórico de exploração de petróleo em todo o Oriente Médio! D’Arcy nunca foi na região. A pesquisa ficou por conta de um time comandado pelo geólogo George Reynolds. O plano era gastar mais £10 mil e achar um poço relevante. Quatro anos depois, ele já tinha gasto mais de £200 mil, e não tinha achado nada!

À temperatura de 50º na sombra, rodeado de areia e tribos nômades hostis, pode-se dizer que D’Arcy encontrou empecilhos… Em 1905 ele conseguiu que uma empresa bem estabelecida na região da Ásia colocasse mais capital na empreitada, a Burmah Oil Company Ltd. As buscas ganharam mais um fôlego, mas em 16 de maio de 1908 a paciência se esgotou e mandaram o seguinte telegrama para o Reynolds:

“Pare o trabalho, demita a equipe, desmonte tudo que valer mais que o custo do transporte para reenvio, e volte para casa”

Naquela época não dava pra ver se os dois pauzinhos ficaram azuis, e então Reynolds atrasou um pouco o atendimento às ordens.

No dia 26 de Maio, dez dias depois, jorrou petróleo no Oriente Médio, e diz a lenda que Reynolds respondeu o telegrama da seguinte forma:

“Ver Salmo 104, versículo 15, terceiro parágrafo” (Que Ele possa fazer sair o óleo da terra para a alegria de todos)

A grande descoberta da Burmah Oil Company em 26 de maio de 1908 – o primeiro poço a extrair petróleo no Oriente Médio

Se a resposta foi esta mesmo, não sabemos. Mas sabemos que o Eike Batista queria ter o mesmo destino. Também sabemos que jorrou tanto petróleo que tiveram que montar uma nova empresa em 1909 só para explorar e refinar o ouro negro local: a Anglo-Persian Oil Company (hoje conhecida como “BP” – British Petroleum).
 

 

Ultramaratonistas

Um evento notável passa quase desapercebido. É 19 de abril de 2022 e Kane finalmente decide se recolher, apenas 10 dias após sagrar-se vice-campeã mundial na maior maratona do planeta, superando a famosa marca que Sarah ostentava desde 1999.

Mas o melhor ainda está por vir. Caso mantenha o foco e resiliência, por volta de 04/08/2026 Lucile pode quebrar o inconcebível tabu de 1997 da lendária compatriota Jeanne e subir ao topo do pódio dessa competição com total hegemonia feminina. Homens raramente são bem-vindos, exceto casos como o do obstinado Jiroemon, ocupante da 21ª posição, um entre os 5 homens no TOP 100.

Fato que os verdadeiros recordistas provavelmente sejam outros, anônimos, que não tiveram seus números reconhecidos pelos sistemas modernos de aferição.

Aqui a desforra do gênero homem. Filho de Enoque, pai de Lameque, e avô de Noé, Matusalém teria vivido bons 969 anos segundo o Gênesis. Mais recentemente tivemos Mestre Li Ching-Yuen, falecido em 1933 e que teria nascido em 1677 segundo alguns registros ou apenas em 1736 segundo correção feita pelo próprio (reduzindo sua vida de 256 para 197 anos). A receita do líder taoísta incluía sentar-se como as tartarugas, andar como os pombos e dormir como os cães.

Seja como for, o domínio das últimas gerações no ranking dos 100+ deixa poucas dúvidas de que as pessoas estão vivendo cada vez mais. Entre os heróis da resistência, 64 pessoas faleceram de 2010 para cá ou ainda estão vivas. E no que depender do volume de investimentos que a modalidade vem atraindo, o tempo de permanência no hall da fama será curto.

No início de 2022 nasce a Altos Labs, com a singela missão de encontrar o elixir da longa vida, por meio da programação do rejuvenescimento celular.

Talvez a startup possa fazer bom uso das descobertas dos últimos 20 anos da engenharia genética, de um cheque inicial de US$3 Bi e de um elenco de novos alquimistas – empreendedores bilionários e cientistas estrelados.

Mas espichar a vida até os 200 anos segue uma meta tão distante quanto povoar Marte ou criar inteligência artificial.

Há muitas dúvidas no meio científico quanto ao potencial de se reprogramar o envelhecimento celular com sucesso.

Precursores igualmente talentosos e abastados, em meio a EQMs, não têm revelado experiências transformadoras. Caso da Calico Life Sciences, fundada em 2013 com apoio de Larry Page (Google) e da Human Longevity, fundada no mesmo ano por Peter Diamandis (fundador da X Prize Foundation e da Singularity University) e Craig Venter (precursor do sequenciamento do genoma humano e atualmente mais entretido com a criação de vida artificial).

O que salta aos olhos nas estatísticas é a formidável democratização da velhice dos últimos 150 anos, fenômeno universal, ilustrado pelas estatísticas da Inglaterra e País de Gales.

Em 1871, apenas 50% da população chegava aos 45 anos, percentual que atingiu os 90% ainda em 1951. Nos últimos 70 anos os grandes avanços alcançaram a faixa dos 75 anos, graça alcançada por pouco mais de 40% da população até então e atualmente acessível a quase 80%.

Evolução da curva de sobrevivência na Inglaterra e País de Gales

No entanto, parece que a longevidade não consegue escapar da Lei dos Rendimentos Decrescentes. Nas idades mais avançadas, os ganhos de sobrevida seguem quase imperceptíveis. A exemplo de 150 anos atrás, menos de 5% da população chega aos 100 anos de idade.

Por aqui também não ficamos livres dos desígnios de Pachamama. Entre 1991 e 2020, brasileiros com até 20 anos de idade ganharam mais de 8 anos em expectativa de vida. A partir daí os ganhos foram se reduzindo e cada vez mais rápido, até que na faixa dos 79 anos o avanço foi inferior a 4 anos.

Aumento na expectativa de vida (eixo y) conforme idade (eixo x)

Se herança genética, ambiente, limitações à vida loca e avanços da medicina contam muito para chegar à velhice, suas contribuições seguem limitadas.

Fora a escolha correta do gênero e uma dose de sorte na loteria genética, o tempo máximo de vida não parece se importar tanto com o nosso livre arbítrio.

Os supercampeões são cidadãos comuns, de hábitos comuns, nunca cobaias de experimentos científicos, ciborgues, bilionários excêntricos ou gurus da alimentação.

A francesa Jeanne Calment só conseguiu chegar aos 122 anos por ter praticado esgrima até os 85 e ter abandonado os cigarros aos 120. Naquele tempo, o segredo era a adoção monástica de azeite, vinho do porto e chocolate.

A japonesa Kane Tanaka bateu os 119 anos em uma clínica de repouso entre jogos de tabuleiro, chocolates, problemas de matemática e refrigerantes.

A americana Sarah Knauss chegou aos mesmos 119, os últimos 8 em casa de repouso, trabalhando duro e sem se preocupar com a idade. Inconfidências da bisneta dão conta de um especial interesse por doces e desprezo por vegetais.

E a francesa Irmã Lucile, que chega chegando? A sister comemorou a subida ao pódio em clínica de repouso com vinho do porto e chocolate (habemus tips) e reclamando do assédio dos fãs.

Quando o acesso à saúde é muito precário, pequenos aumentos nos gastos estão associados a grandes saltos na expectativa de vida. Mas até faixas de dispêndio similares a do Brasil, que investe US$1.500 por habitante ao ano em saúde e alcança expectativa de vida de 76 anos.

A partir daí, o retorno de gastos adicionais vai minguando até cessar completamente por volta dos US$3.000 per capita (Israel), sendo possível duplicar (Dinamarca) ou triplicar (Suíça) os gastos com saúde sem mover o ponteiro muito além dos 82 anos. Ao quadruplicar, a expectativa volta aos 77 (EUA).

Mas se o valor está na escassez, que graça teria uma vida sem prazo de validade?